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A importância de apreciar a jornada com Sousou no Frieren

Akihito Sato










A cultura social do século XXI é extremamente ansiosa. As nossas tecnologias representam isso e o nosso entretenimento respira muito dessa busca pelo: “E aí? O que vem depois?”. O que cada vez mais é percebido é a maneira como buscamos sempre o amanhã sem perceber o agora. Por isso, indo contra essa maré de buscas intermináveis pelo depois, "Sousou no Frieren" demonstra magistralmente como é importante apreciar a jornada sem ficar obcecado pelo prêmio final.


“Sousou no Frieren”, ou melhor, “Frieren e a Jornada para o Além” nos conta a história de uma milenar elfa que após sua longa aventura com o seu grupo de heróis, formado por um sacerdote degenerado, um herói de coração puro e um anão medroso, podem derrotar o grande Rei Demônio no final de sua aventura. Mas, o que vem depois?


A história nos conta exatamente isso: o que vem depois para uma elfa milenar que passou meros dez anos em uma jornada para salvar o mundo. A Frieren, como elfa, não tem a concepção mundana de tempo; dez anos para ela é como se fossem os três minutos de leitura deste texto. A partir daí, em sua promessa de reencontro com sua equipe, e após sua saidinha de 50 anos, ela percebe que após a morte do grande herói Himmel, ela falhou em conhecer melhor as pessoas e curtir a jornada que salvou o mundo.


Saindo agora das páginas dessa obra escrita por Kanehito Yamada, e trazida dos capítulos para as telas pela animação da Madhouse (HunterXHunter). A obra conta com inúmeras referências aos clássicos dos RPG 's, como Dungeons & Dragons, com os dragões, as classes e também os famigerados mímicos. Além disso, há nessa obra uma beleza interna de roteiro, que são os temas, como relacionamentos, propósito, jornada e tempo. No Japão existem alguns conceitos que com o contemporâneo foram sendo empoeirados, entre eles o “Ma” (間), a ideia de espaço e tempo; uma ideia de vazio.


A arquitetura japonesa traz muito da ideia desse vazio que, ouso dizer, é muito contemplativo. O arquiteto e Urbanista Arata Isozaki conta que o Ma “é um lugar onde uma vida é vivida”. O Ma pode ser entendido como esse espaço intermediário do "vir a ser", como o espaço que temos entre o nascimento e a morte; o fim do Rei Demônio e o recrutamento de uma elfa milenar para uma jornada de uma década. E sob essa luz que devemos, assim como a Frieren, perceber como preencher e apreciar os momento de transição e de possibilidades.


O anime em si é muito sagaz em ambientar isso, com personagens que vêm e que vão; que estão conosco, mas também aqueles que já partiram. A importância daquilo que Jean Paul Sartre defendia como o “projeto de vida”, ou sem academicismos, a importância de ter propósito. A Frieren é uma personagem completamente absorta de Ma, e com isso podemos dizer que a sociedade atual também é.


O que difere a elfa que não entende o apreço pela jornada das técnicas de rolagem infinita do seu aplicativo social? E daquela falta de paciência para ler um texto grande ou mesmo assistir um filme de mais de uma hora.

A elfa milenar tem muito a aprender sobre relacionamentos, também. Com seu projeto de vida claro, o de conhecer todas magias do mundo, ela peca em conhecer mais as pessoas. Em sua nova jornada, novos personagens e velhos companheiros mostram àquela elfa que a aventura de conhecer a humanidade pode transcorrer no tempo e no espaço. A aventura também percorre por uma região fantástica cheia de magos poderosos, lutas gráficas sensacionais e uma trilha sonora de contemplar e querer que a jornada dure por mais uns séculos.


A viagem de Frieren para o além ainda está só nos primeiros ponteiros do relógio, com um pouco mais de três anos de publicação em mangá, o anime chega com aclamações e prêmios, podendo ser assistido tanto no Prime Vídeo como no Crunchyroll. A vista é linda se você parar para contemplar, dê uma chance ao seu Ma e também assista essa jornada que ainda está só começando.

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