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A imprevisibilidade do jogo político em Duna: A Profecia

André Agueiro










Lady Jessica em Duna: Parte Dois (2024).
Lady Jessica em Duna: Parte Dois (2024). (Imagem/Reprodução: Warner Bros).

“Duna: A Profecia” teve sua estreia na HBO no dia 17 de Novembro, trazendo como promessa a expansão do complexo universo que é nos apresentado na saga literária de Frank Herbert. Entretanto, esse prequel é ainda mais ligado às adaptações cinematográficas de Denis Villeneuve, em 2021 e 2024. A proposta aqui é conhecer com detalhes as Bene Gesserit, organização que tem como representante nas adaptações principais a Lady Jessica Atreides.


A série se passa dez mil anos antes do nascimento de Paul Atreides (Timothée Chalamet) e de sua ascensão ao poder, que acontece no primeiro livro e nos dois primeiros filmes da saga. Seja o espectador um fã de Duna ou apenas alguém que assistiu aos filmes, acompanhar a série irá trazer um excelente contexto adicional para compreender com mais profundidade a origem dessa organização, seus objetivos e as técnicas de manipulação que suas integrantes utilizam.


E, para alguém como eu, que leu o primeiro livro duas vezes e ficou obcecado pelos filmes, a série é o início de uma extensa exploração que permite o entendimento do passado dessa Irmandade, que tem um papel crucial nos eventos que acontecem durante a vida de Paul nos filmes.

Nos dois episódios já lançados até a concepção desse texto, pode-se notar a presença de todos os elementos que tornam o universo de Duna tão interessante, como as intenções ocultas das instituições que buscam estar no controle do Império, seja de forma explícita ou implícita (como é o caso das Bene Gesserit, que agem secretamente para manipular decisões importantes de figuras políticas, que recebem seus conselhos).


Um dos rituais das Bene Gesserit, exibido no primeiro episódio.
Um dos rituais das Bene Gesserit, exibido no primeiro episódio. (Imagem/Reprodução HBO Max).

Posso pontuar que um dos aspectos mais instigantes é justamente a imprevisibilidade dos acontecimentos nesta trama. Num mundo onde o uso exacerbado de tecnologia inteligente (IA's) foi responsável pela quase e definitiva extinção humana – e, por causa disso, se tornou expressamente proibida –, pessoas com habilidades extra-humanas passam a agir como computadores ou como a própria IA. E é exatamente por isso que as suas decisões devem ser minimamente analisadas, a fim de garantir o controle da situação sempre que possível.


Valya (Emily Watson), integrante da família Harkonnen e responsável por liderar as Bene Gesserit desde a morte da fundadora, se considera a única capaz de guiar esta Irmandade, ultrapassando qualquer limite a fim de garantir que a missão da organização seja concretizada. Outra adição brilhante é a do personagem Desmond Hart (Travis Fimmel), que surge com poderes nunca antes vistos, o que intriga Valya a ponto de causar um embate direto entre eles.


Quais caminhos e estratégias cada um tomará é o que me deixa extremamente ansioso para desvendar nos episódios a seguir.

O confronto entre Valya e Desmond no segundo episódio. (Imagem/Reprodução HBO Max).
O confronto entre Valya e Desmond no segundo episódio. (Imagem/Reprodução HBO Max).

Além disso, nesse universo não existem seres soberanos que não possam ser derrotados, o que deixa o espectador ainda mais apreensivo sobre quem de fato está no domínio, e quem será o vencedor dos conflitos apresentados.


Nesse sentido, as Bene Gesserit não são boazinhas e muito menos são colocadas como heroínas, mas, para mim, é inevitável torcer – com a mão na consciência – para que seus planos se concretizem. Assim como outras séries em que a ética é quase inexistente, qualquer espectador pode escolher um lado de sua preferência, ou, se optar, pode torcer pela própria confusão em si.


E por isso que uma das maiores reflexões que a obra traz é exatamente "a ganância por controle". Todos os personagens que orbitam na dinâmica de poder pensam ter a melhor das intenções para guiar a humanidade à uma “harmonia” dentro do Império. Assim como ocorre em Game of Thrones (2011–2019), cada peça nesse jogo de tabuleiro tenta articular a melhor maneira de garantir que seus interesses sejam alcançados, e é assim que a tomada de decisões é realizada, independente das consequências – dolorosas ou até fatais – que afetarão terceiros não diretamente ligados à essa disputa interminável.


A sede por poder cega os julgamentos das personagens, que mesmo possuindo dons quase que sobrenaturais, ainda são humanas e, logo, estão condicionadas ao erro. Cada um desses equívocos direcionam a trama a um efeito dominó espetacular e imprevisível. Um dos fatores de curiosidade para os fãs mais antigos da saga é que os eventos da série não estão presentes de forma integral em nenhum dos livros dos Herbert, o que cria mais burburinho e impulsiona teorias acerca do futuro dessa narrativa. Vale lembrar que há também a presença de um personagem da linhagem Atreides, que bem antes de ser fundamental para a batalha de Arrakis, participava em planos ambiciosos para mudar a dinâmica de poder do Império.


Imagem promocional do terceiro episódio, lançado no último domingo. (Imagem/Reprodução HBO Max).
Imagem promocional do terceiro episódio, lançado no último domingo. (Imagem/Reprodução HBO Max).

Será fascinante observar o desenrolar dessa trama, e eu garanto que os fãs das adaptações recentes de Duna, que prezam por sua qualidade cinematográfica, também não se decepcionarão com a série, já que cada episódio explora as paisagens dos planetas e suas magníficas arquiteturas com ainda mais delicadeza.



Deixo aqui apenas um adicional: um dos desdobramentos que mais senti falta em Duna: Parte Dois (2024) foi a transformação de Lady Jessica em relação às Bene Gesserit, que no filme é apresentada de forma rápida e por meio de flashes, diferentemente da descrição minuciosa e impactante do livro. Nesse sentido, a série explora mais desse momento tão crucial na vida das mulheres que fazem parte da Irmandade, atestando, assim, sua importância ao trazer um panorama maior para quem não é tão familiarizado com a obra de Herbert.


Dito isso, recomendaria a série especialmente para quem já experienciou as obras-primas de Villeneuve, pois existem inúmeras referências à história apresentada com Paul Atreides. Como um grande fã desse universo, que particularmente é minha obra de ficção científica favorita, fico feliz que esteja recebendo um forte investimento por parte da HBO, uma vez que tem potencial de se tornar tão popular quanto Game of Thrones foi enquanto era exibida. Garanto que o legado deixado por Duna nas décadas passadas merece uma chance sua, leitor, pois até mesmo quem não se interessa pelas características do gênero, vai se deparar com uma trama política recheada de desdobramentos inesperados, que surpreende e tira o fôlego a cada passo tomado pelas personagens marcantes.

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