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A Literatura Brasileira ainda apaga as mulheres?

Thainá Christine é professora, revisora e escritora que escreve histórias de terror com protagonismo feminino,










Maria da Conceição Evaristo de Brito é uma linguista e escritora afro-brasileira. É uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio. (Registro fotográfico por Richner Allan)
Maria da Conceição Evaristo de Brito é uma linguista e escritora afro-brasileira. É uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio. (Registro fotográfico por Richner Allan)

Durante essa semana, no dia 1° de maio, foi comemorado o Dia da Literatura Brasileira. Essa data foi escolhida por também ser aniversário do autor José de Alencar, um dos maiores nomes da escola literária Romantismo, conhecido por livros como Iracema, Senhora, O Guarani, entre outros.


É muito bonito ver tantos leitores admirando autores brasileiros, tanto os clássicos como também os contemporâneos. Até porque os livros de fora chegam com bastante facilidade por aqui, sendo muitas vezes a primeira opção de leitura, independentemente do preço exorbitante ou da fórmula narrativa já vista tantas vezes.


Entretanto, ainda é possível perceber que a Literatura Nacional encontra imposições e receios, principalmente quando é feita por mãos femininas. Afinal, seja em eventos on-line ou presenciais, ou em clubes de leituras, a escolha pelo autor masculino ainda prevalece.


Em 2018, por exemplo, ocorreu a injustiça com a autora Conceição Evaristo que foi ignorada pela Academia Brasileira de Letras. Com 8 obras publicadas, Conceição aborda em seus textos a vivência das mulheres negras, a exclusão da pessoa negra e a denúncia da discriminação racial.


Mas não apenas isso, a autora é uma das vozes mais importantes e necessárias do cenário da Literatura Brasileira. O seu livro Olhos d’água, ganhador do prêmio Jabuti na categoria contos em 2015, escancara a violência e a pobreza no meio urbano, trazendo histórias impactantes com personagens que foram silenciadas pelo racismo.


Se não apagamento, qual é então o motivo para uma escritora como a Conceição Evaristo não ter sido escolhida para ocupar uma cadeira naquele ano?


Sabemos que em março desse ano, o cenário foi mudado. Conceição foi escolhida para ingressar na Academia Mineira de Letras, sendo a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira. A Academia Mineira foi fundada em 1909, a Brasileira em 1897. Qual é o motivo dessa demora, se não machismo e racismo?


Com isso, também é importante se lembrar que a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia foi a autora Rachel de Queiroz, em 1977. Desde então, ainda não conseguimos chegar nem a um total de 20 mulheres ocupantes de cadeiras, somando-se as academias.


Com relação ao mercado literário, mesmo que atualmente tenha espaço para as mulheres, ainda é visível a dominação de homens que escrevem sobre e para homens. Quando há mulheres citadas em seus romances, elas se limitam a serem descritas como donas de casa ou estudantes, às vezes não tendo nenhum papel de destaque ou importância nas narrativas.


Isso fica ainda mais claro em uma pesquisa realizada em 2021, feita pela pesquisadora Regina Dalcastagnè, professora de literatura da Universidade de Brasília (UnB), que mostra que entre as 2.381 personagens analisadas em 558 livros, 60,2% eram masculinos. Além de que as personagens femininas se encaixavam em um padrão: eram magras, brancas e disponíveis para os homens.


Essa criação também tem ligação com o próprio gênero de quem escreve. No caso das autoras, são 53,2% de personagens femininas, entre elas protagonistas e narradoras. Já na escrita de autores, há apenas 33,9% de personagens femininas.


Então, por mais que hoje em dia o espaço para as mulheres na Literatura Brasileira seja maior, ainda não é suficiente, pois o apagamento e o preconceito se sobressaem.


Por isso, torna-se tão necessário que os leitores valorizem e compartilhem obras escritas por mulheres, principalmente da nossa Literatura Brasileira. Precisamos ser lidas e ouvidas. Agora.

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