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As Mitologias como um Incansável Repertório De Criação

Um ensaio por GABRIEL MELLO




INTRODUÇÃO


As mitologias, por inúmeros séculos e Eras, mostraram seu serviço como repertório fundamental no tecer de um senso coletivo de criação. Quando me refiro a senso coletivo, busco enfatizar essa natureza especulativa dos Mitos. Muito embora o ‘criar’ se relacione a um processo bastante pessoal, é inegável o impacto que a criação exerceu – através da construção de imagens, ritos e mitos – em um senso coletivo. Senso este que nos carrega até hoje.


Sobretudo, quando há a proposta de investigar as múltiplas Mitologias como um aparente repertório inesgotável de criação, e atrelamos ao debate a inegável natureza da coletividade ou da significação coletiva, propomos um levantamento não só histórico como político e sociológico. Neste ensaio, porém, permearei por uma esfera bastante específica, que, inegavelmente beberá dos fatores históricos, políticos e sociológicos em um certo momento, mas que busca a angulação do Processo de Criação.

 


FONTE INESGOTÁVEL DE INSPIRAÇÃO


Símbolos e arquétipos antigos curiosamente permanecem como repertório artístico contemporâneo. Quão arraigados estão estes simbolismos, ou quanto estamos dispostos a não os usufruir? Neste sentido, percebe-se que uma característica distintiva das Mitologias é a sua capacidade de transcender o tempo e o espaço. Mitos que surgiram em civilizações antigas continuam a influenciar a imaginação humana no hoje, e essas narrativas, persistentes em parâmetros que indicam uma atemporalidade, oferecem um terreno bastante fértil para os Processos de Criação.


A persistência dos mitos ao longo dos séculos revela uma essência, como já citada, atemporal; uma que transcende fronteiras naturalmente rígidas, como as geográficas e políticas. Ainda assim, esses relatos ancestrais não apenas resistiram ao teste do tempo, mas continuam a florescer organicamente, alimentando a criatividade contemporânea. Ao explorar a interconexão entre Mitologia e Processos de Criação, somos levados a questionar a profundidade de nossa disposição para absorver e reinterpretar os simbolismos que nos foram legados por civilizações antigas.


Sobretudo, vele perceber como os símbolos e arquétipos que se originaram em Eras distantes mantêm uma presença notável no repertório artístico do hoje. Esta persistência não é apenas uma mera coincidência, mas sim um testemunho do poder transformador que os mitos têm sobre a imaginação humana, que expressaram domínio no antes, mas também no agora. Ao analisar essas influências, somos confrontados com a dualidade de nossa relação com o passado: resistir à tradição estabelecida ou abraçar os elementos arquetípicos que continuam a ecoar através das Eras?



Neste contexto, emerge uma questão fundamental: nós, como artistas e criadores contemporâneos, até que ponto estamos dispostos a mergulhar nos poços profundos da mitologia em busca de inspiração? A resposta a essa pergunta não é apenas uma reflexão sobre nossas preferências estéticas, mas uma investigação mais profunda sobre a influência invisível que os mitos exercem sobre nosso Processos de Criação.


A atemporalidade dos mitos não reside apenas em suas narrativas, mas também na simbologia perene que carregam. Esses símbolos, sobretudo enraizados em conceitos universais e experiências humanas fundamentais, e às vezes fundamentalistas, transcendem as barreiras culturais e linguísticas, o que se torna um fator instigante de se investigar. Ao explorar mitologias diversas, não apenas viajamos através do tempo, mas também nos percebemos para fora de barreiras que “naturalmente deveríamos habitar”. Nesse processo, claro, a flutuabilidade das informações e do conhecimento impactam diretamente nosso resgate e fomento aos antigos Mitos, mesmo que estes pouco se relacionem com nossa realidade atual.

 


O FASCÍNIO DO MITO NA CRIAÇÃO


No cenário efervescente da criação artística contemporânea, ainda, a interação dinâmica entre mitologia e processos criativos assume um papel central. A persistência de tais mitos, como mencionado, transcende barreiras muitas vezes naturais e convencionais, se infiltrando organicamente nos tecidos da expressão artística e literária. A pergunta fundamental que surge neste contexto é: há identidade neste processo de apropriação?


A resposta, claro, não reside apenas em nossas preferências estéticas, mas em uma exploração mais profunda da influência sutil que os mitos carregam sobre os nossos próprios Processos de Criação.  A coletividade e seu fascínio pelos épicos e mágicos, assim, transcendem sua natureza sociológica para se tornar uma manifestação da busca humana pela compreensão e conexão com algo maior do que nós mesmos em prol da arte e da literatura. Neste cenário, a interseção entre mitologia e Processos de Criação não é apenas um ponto de convergência, mas um terreno completamente rico onde o  passado e o presente dão forma às novas formas de expressão artística que ecoam através das eras.


Ainda, ao mergulharmos na intricada relação entre mitologia e os processos contemporâneos de criação artística e literária, é inegável a capacidade dos artistas atuais não apenas de se inspirarem nos mitos, mas de os recriarem de maneiras genuinamente únicas, adaptando-os aos complexos matizes culturais e sociais do presente. Essa prática não apenas confere uma relevância duradoura aos mitos, mas também revela a habilidade intrínseca da criatividade humana em reinventar e revitalizar narrativas que remontam à antiguidade.


Um exemplo emblemático desse fenômeno é a recorrência persistente de arquétipos mitológicos em obras literárias e cinematográficas contemporâneas. A presença do herói enfrentando desafios épicos, a figura do mentor sábio e a jornada do herói são elementos que continuam a ressoar de forma marcante nas produções modernas. A saga de Percy Jackson, elaborada por Rick Riordan, não apenas se apropria dos mitos gregos, mas também incorpora elementos arquetípicos presentes em diversas mitologias antigas, oferecendo aos leitores uma familiaridade enriquecedora ao mesmo tempo em que introduz uma roupagem inovadora e contemporânea.


Um ponto particularmente intrigante é a maneira como os artistas exploram mitologias de diversas culturas para criar obras que transcendem fronteiras e se tornam verdadeiramente híbridas e transculturais. O renascimento notável da mitologia nórdica na cultura pop contemporânea, refletido em produções como a série de televisão "Vikings" e o jogo "God of War", destaca como os processos criativos parecem invariavelmente voltar-se para as antigas mitologias, demonstrando a capacidade dessas narrativas de serem reinventadas e adaptadas de maneiras infinitas.



Além disso, a conexão entre mitologia e os processos de criação não se limita às artes visuais e literárias; ela estende-se também à música. Bandas como Led Zeppelin e Iron Maiden incorporam referências mitológicas em suas letras e estilos, criando uma experiência artística que transcende os limites do puramente visual ou textual. Essa expansão para diferentes formas de expressão destaca a universalidade dos mitos como uma fonte contínua de inspiração e uma poderosa ferramenta de conexão humana.


Ao investigar o processo criativo, é imperativo reconhecer que a mitologia não apenas oferece temas e personagens, mas exerce uma influência profunda na estrutura narrativa e na profundidade simbólica das obras contemporâneas. A dualidade entre resistir à tradição e abraçar os elementos arquetípicos revela-se como um dilema constante para os artistas, refletindo a busca incessante por equilíbrio entre inovação e tradição.


Assim, a influência da mitologia nos processos de criação contemporâneos inegavelmente transcende uma esfera estética, embora muitas vezes se sustente nela. Aparentemente, tudo emerge como uma lente através da qual os artistas exploram questões fundamentais da condição humana, da moralidade e do significado existencial, ao passo em que retomam, nostálgicos, os símbolos já enraizados, com fascínio. A atemporalidade dos mitos proporciona um terreno sólido para a construção de narrativas profundas e significativas que, mesmo enraizadas no passado, continuam a ressoar de forma vibrante no presente, fornecendo uma base robusta para a evolução contínua da expressão artística e literária.



Conteúdo presente na edição de DEZEMBRO DE 2023 da Revista Especular. Leia este e mais conteúdos em revistaespecular.com.br. A Revista Especular é um selo do GRUPO EDITORIAL LUMINAR

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