por Matheus Maciel
Autor de “A Bruxa de Lavanda Negra”, é historiador e professor.
Quando não está lendo ou escrevendo, divide o seu tempo entre
D&D, filmes de terror e jogos de basquete.
Eu já pretendia trazer mais conteúdos sobre escrita e literatura sobre fantasia, terror e afins. Creio que trazer uma graphic novel que eu mesmo roteirizei seja começar com o pé direito! Então, permita-me apresentar-lhes Devaneio.
Devaneio é uma história em quadrinhos ilustrada pela Nathália Bonfim, e eu, Matheus Maciel, assino o roteiro e o argumento. A HQ, que estará em pré-venda até 17/02 (vou chamar “história em quadrinhos” de HQ, tudo bem?) será lançada pela Editora Aurora, por meio da sua nova linha editorial para HQ’s: a linha Rabisco. Em uma breve sinopse, Devaneio nos apresenta a Roger, uma assustada vagante e ladra de tumbas, que viaja por uma floresta sombria, até encontrar uma cabana iluminada e envolver-se com Ofélia, a guardiã da região.
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Sim, é uma sinopse bastante simples, mas acho que nunca vou acertar um recorte preciso que resuma Devaneio satisfatoriamente. Primeiro que, como já dito, a obra foi concebida no formato graphic novel, ou seja, a história é fechada em si; você só precisa ler a própria obra para compreendê-la. Quer dizer, essa é a ideia efetiva.
Sabemos que, ao longo da história, HQs sempre foram obras extensas e que se perpassaram, atravessaram e referenciavam umas às outras. Quadrinhos sempre foram sinônimo de universo compartilhado, desde os mais complexos mundos, como os heróis da Marvel e da DC Comics, os mais episódicos e satíricos gauleses em Asterix & Obelix e as divertidas e aventureiras crianças em A Turma da Mônica. E olha que nem cheguei perto de arranhar a superfície!
Entretanto, arrisco dizer que as graphic novels existem como um farol para os que gostam de uma leitura - com ressalvas - mais fechada em si, como um filme. Portanto, quando definimos o tamanho de Devaneio e o recorte da história para o formato graphic novel, cada mínimo elemento passa a valer mais, sendo difícil saber o que é, ou não, uma grande revelação. Deixo aqui, então, um mistério em um pequeno resumo.
O outro fator que torna difícil o resumo da obra é sua temática e seu gênero. A HQ pode ser catalogada com o gênero de ficção fantástica, mais especificamente na “fantasia sombria” (dark fantasy), assim como O último desejo, que analisamos aqui na coluna. Fantasia sombria, portanto, implica elementos de terror e temas mais densos. E como é difícil falar sobre terror sem entregar o “ouro”, prefiro deixar que vocês se percam nas florestas.
O que posso fazer aqui, por ora, é dar a palavra à co-autora do projeto. Com vocês, Nathália Bonfim:
Oi, pessoal da Revista Especular! Vim falar um pouco sobre meu processo de criação da HQ Devaneio. Bem, fazer a HQ foi um desafio e tanto. Afinal, nem todo ilustrador é um bom quadrinista, e eu tive que aprender a ser uma (na verdade, metade de uma, já que o roteiro e história foram feitos pelo Matheus). Mas, foi fazendo a HQ que eu realmente entendi porque eu, mesmo só ilustrando, também sou autora dessa história: a narrativa visual é uma história à parte da própria história escrita, mas que, claro, se complementam e fazem sentido uma à outra. E aqui, na HQ, isso tem um peso enorme. Afinal, é uma história inteiramente ilustrada!
A ideia de fazer a HQ veio de um desejo meu antigo de transformar uma série de desenhos denominada (IN)tropia em algo a mais. Esses desenhos retratam uma jornada silenciosa e atmosférica de uma personagem em sua saga para alcançar a lua, tendo suas principais inspirações imagéticas no estilo de narrativa visual do jogo GRIS (2018) e na ambientação das ilustrações de John Bauer (1882-1918). As ilustrações dessa série serviram tanto como elementos oníricos inseridos dentro da história (remodelada e repensada pelo Matheus), quanto para definição de outros aspectos visuais de Devaneio: a paleta de cores, reaproveitamento de elementos para a história (a lua, a floresta, a personagem), dentre outros elementos.
Minha relação com o universo das HQ’s sempre foi de muita admiração, mas nem sempre de muito contato, admito. Não sou ávida consumidora das clássicas HQ’s de super-heróis, e costumo dar preferência a obras independentes e com um "dedo mais artístico", assim por dizer. Sou apaixonada pelo trabalho da artista Loputyn em sua HQ Francis, onde a autora mistura técnicas tradicionais e digitais formando uma estética mágica e artesanal para contar a história da Bruxa Melina, e, na minha cabeça, eu gostaria ao máximo de chegar perto desse aspecto mais tradicional e até meio artesanal para a HQ. Por mim, eu faria tudo em aquarela tradicional, se tivesse duas coisas que não tinha quando decidi fazer Devaneio: tempo e experiência.
Dessa forma, optando por desenhar e fazer todas as ilustrações no meio digital, pode-se perceber, ainda assim, uma impressão mais pictórica ao invés de totalmente renderizada e próxima à realidade, pois optei por utilizar pincéis com mais texturas aparentes, na intenção de lembrar pinceladas de tinta e um método de pintura mais próximo ao tradicional, mesmo que com as ferramentas digitais mais facilitadoras disponíveis (um viva para o control Z!)
Foi e tem sido muito empolgante perceber que eu pude escrever pela primeira vez. Escrever através da arte é muito diferente e desafiador, mas essa é a magia de uma história ilustrada: têm coisas e sentimentos que, de fato, são transmitidos de forma única e sensível por meio do desenho e das cores.
Bem, acho que isso é tudo! Espero que gostem de Devaneio e se apaixonem por Ofélia e Roger. Até breve!
Obrigado, Nathália! Tenho certeza que o pessoal que ler vai gostar muito. Para vocês, leitores, reforço que a pré-venda está aberta até o dia 17 de fevereiro de 2024, que conta com brindes exclusivos, incluindo um artbook para o nível de apoio mais alto. Obrigado a todos que leram a coluna dessa semana e estão conferindo a HQ!
Até semana que vem!
O meu já ta comprado, hihi
Ansioso pra chegar