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Como Se Tornar O Herói Do Povo, Sendo Um Forasteiro Entre Eles?


"De vogel Phoenix", entre 1720 e 1750, por Cornelis Troost


Gismo tinha nascido errado, ou pelo menos foi nisso que ele acreditou durante sua infância na vila do Galho Quebrado. Seus pais e irmãos nunca demonstraram que tal informação fosse verídica; entre aqueles que dividiam a aconchegante casa na copa das árvores, se via como um igual, afinal todos tinham orelhas pontudas, gostavam das mesmas histórias e eram da família Pinhão. Talvez os outros da família não apreciassem carne de gato tanto quanto Gismo, mas também não pareciam se incomodar com suas peculiaridades.

No entanto, as coisas começaram a mudar quando todos os pequenos elfos foram convocados para a academia de treinamento. Por coincidência, a carta de aceitação de remetência a Gismo não chegou junto com a dos irmãos; quando a recebeu, foi das mãos do pai. Não foi endereçada à caixa de correio da família Pinhão como deveria ser, mas estava tudo bem, não é? Pelo menos ele teria bons anos na academia e poderia realizar o sonho de fazer parte da guarda nogueira. Desde muito novo, Gismo sempre viu os nogueiras como os guerreiros mais importantes da vila. Eles eram responsáveis por proteger os arredores da vila de cima da grande muralha; todos que faziam parte da guarda eram vistos como heróis, respeitados e amados por todos os elfos.

Quando o primeiro dia de aula chegou, Gismo achou tudo muito estranho. Enquanto caminhava com os irmãos, que marchavam em formato de um círculo de proteção ao seu redor, os outros elfos olhavam de cara fechada para eles, proferindo aos cochichos as palavras “forasteiro”, “ladrão”, “verme” e outras que sua mãe tascaria um peteleco na orelha caso ouvisse... Mas o pequeno estranho era muito novo, inocente, até para entender o que aquela comoção significava. Foi no segundo horário de aulas que a verdade veio à tona.

As aulas de combate tinham a tradição de começar com a escolha das armas que os acompanhariam pelo resto de suas vidas. Gismo não sabia o motivo, mas seus grandes olhos amarelos brilharam quando foram de encontro a um par de facas cravadas de rubis. Seu professor, Coronel Joaquim Espinho de Rosa, bufou com ar de convicção e ironia: "Típico de um Goblin..."

Aquela frase permaneceu na cabeça de Gismo pelo resto do dia, ficava pensando nos pequenos e grandes detalhes que o diferenciavam dos outros: seus olhos grandes exageradamente amarelos, a pele de um verde oliva escamosa, as garras e presas que projetavam da boca e das pontas dos dedos, as orelhas grandes como as de um morcego. Certamente ele não era um elfo, mas o que ou quem teria o levado ainda filhote até Galho Quebrado? Quem seriam seus verdadeiros pais? Como seria a vida possivelmente tranquila que ele teria? Essas perguntas atormentavam o pequeno goblin, que agora entendia o motivo da desconfiança, dos olhares de canto de olho, dos elfos adultos que não deixavam os filhos brincarem no parquinho de areia com Gismo e os irmãos. Tudo por conta de ele ser diferente.

Alguns anos se passaram desde a descoberta. Ser um estranho no ninho não foi uma coisa que ajudou muito Gismo dentro da academia. Nos jogos de equipe, era sempre o último a ser escolhido (mesmo sendo o mais rápido da turma); era zombado constantemente graças ao pouco que cresceu em relação aos grandes e musculosos jovens elfos; tinha dificuldade em enxergar as palavras na lousa, já que sua visão noturna era muito melhor que a diurna, e por isso tinha que usar um par de óculos de explorador que havia sido do pai adotivo. Dizia que os óculos foram seu fiel companheiro durante seus dias de aviador das Folhas Secas, a grande companhia de entrega e exploração aérea dos elfos."

As aulas de combate sempre foram suas favoritas, mas infelizmente, Joaquim fazia questão de o deixar no banco, dizendo: “Sua espécie é ardilosa e sorrateira, não vou colocar nenhum de meus alunos em perigo na mira dessas suas facas.” Aquilo enchia o coração de Gismo de fúria, levando-o constantemente à prática de meditação para apaziguar o desejo de degolar o professor, que certamente merecia tal feito. Em casa, o pequeno goblin se sentia seguro. Às vezes, precisava colocar a cabeça no lugar para não deixar a síndrome do impostor tomar conta.

Seus irmãos maiores já tinham saído de casa. Gil, o mais velho, seguiu a trilha do misticismo, tornando-se um grande usuário de magia do fogo e do ar, indo prestar serviço à coroa. Gardenia levou seu nome muito a sério e se tornou botânica, vivendo próximo, na vila dos muitos brotos, onde ajuda os elfos locais no cultivo das mais diversas flores. Grover ainda vivia em Galho Quebrado, mas havia se mudado recentemente com a esposa e as duas filhas para perto da casa do Ferreiro, onde trabalhava. Gismo não ficou totalmente sozinho graças a Gina e Ged, os gêmeos que nasceram no mesmo ano em que ele foi deixado na porta da casa de sua família adotiva aos berros.

A mãe dizia que foi em uma noite de muita chuva, enquanto contava aos filhos a lenda da besta no bosque, quando Genya ouviu um choro doloroso vindo da porta. Quando a abriu, seguida do marido Raimon, que trazia consigo uma frigideira de metal grosso na mão, viu um pequeno cesto bem ornamentado no chão. Quando o pegou nos braços, foi surpreendida com uma pequena figura verde e orelhuda, enrolada numa manta presa por um pequeno tronco brilhante. Quando o pequeno embrulho abriu os olhos assustados, a elfa já afeiçoada ao serzinho deixado em sua porta voltou para o conforto de sua lareira e alimentou o filhote de goblin com uma tigela de mingau junto aos outros filhos. Como tradição de que todos de sua prole tivessem nomes iniciados pela letra “G”, decidiu que o pequeno se chamaria Gismo. Daquele dia em diante, Genya fez de tudo para que seu mais novo filho nunca fosse deixado só de novo e o criaria com a força para realizar todos os seus sonhos, mesmo que os outros o fizessem acreditar no contrário.

Apesar dos desafios de ser um forasteiro, vivendo numa sociedade de elfos grosseiros e cheios de si, o goblin, que agora já tinha entrado na juventude, quase adulta, aprendeu como lidar com os julgamentos e maus olhares. Sua dedicação e força de vontade o fizeram se tornar um dos melhores alunos já formados na academia. Era forte, capaz de carregar o triplo de seu peso; tinha uma velocidade fora do comum que ajudava muito na caçada, além de sua furtividade invejada pelos elfos que sonhavam em ser Rastreadores-Toupeira. As facas, que um dia foram motivo de desconfiança, eram reconhecidas por todos na vila; pareciam dois raios quando Gismo as arremessava em direção a um javali, que logo caía abatido, ou quando eram tão eficazes que deixavam fios de sangue em pequenos cortes nos inimigos ou adversários na arena.

Gismo saiu do status de “o estranho da vila” para “a atração principal”. Aos poucos, a notícia de que um goblin treinado por elfos estava prestes a se tornar membro da Guarda Nogueira chegou aos ouvidos do Rei, que não ficou nada contente com essa possibilidade e se deslocou a Galho Quebrado quase de imediato com a intenção de intervir.

Aconteceu numa tarde de inverno; as ruas de Galho Quebrado estavam cobertas por uma camada espessa de neve, as folhas secas de outono que serviam na fabricação dos telhados começavam a perecer. Os moradores, usando suas botas de couro pesadas, corriam para todos os lados buscando recursos para as reformas. O caos da vila se intensificou com os leves tremores que vinham da estrada a leste; uma comitiva não anunciada estava a caminho de Galho Quebrado, pela direção sabiam que vinha do castelo, e isso definitivamente não era um bom sinal.

O Rei se encontrava na terceira carruagem, puxada por um par de Besouros-Rinocerontes gigantes, que haviam sido presentes do Conde Mariposa das montanhas geladas, um amigo de longa data. Alexandre, O Encantado, descendia de uma longa linhagem de monarcas meio-elfo e meio-humano, e tinha pouca, ou nenhuma, conexão com a Magia Natural. No entanto, graças a um acordo firmado por casamento e traição, governava todos os povos da redondeza.

De dentro de sua luxuosa carruagem aquecida por cobertores de pele, o Rei encantado matutava sobre como se livrar do pequeno goblin. “Era um absurdo que uma criatura como aquela vivesse no meio de seus súditos”, ele pensava em voz alta. Aquilo irritava Alexandre. Enquanto sua comitiva desacelerava, formando uma comoção na praça de Galho Quebrado, o rei se recordou de uma história dos elfos contada muitas vezes a ele quando menino. Teve um estalo e sabia exatamente como se livrar de um monstrinho indesejado.

A história que Genya contava todas as noites aos filhos antes de dormir tinha sido passada de vizinho a vizinho entre os elfos da vila. As muitas versões podiam divergir em pequenos detalhes, mas a base era sempre a mesma:


"Era uma vez um guerreiro. Alguns diziam que ele vinha de um povoado distante e era visto encapuzado. Nada sobre sua aparência era visível, então não sabiam do que se tratava. Ele não tinha uma casa própria, não visitava o mercado e muito menos saía de seu posto na grande muralha de obsidiana. Tudo o que ele comia era dado a ele pelos moradores, que admiravam sua determinação e confiavam a proteção da vila a ele.

Certo dia, o guarda avistou algo no céu. Sobrevoava os arredores de forma desordenada, e ele não sabia ao certo do que se tratava. Estavam em tempos de chuva, a criatura se escondia entre as grandes nuvens cinzentas e só se tornava visível quando rastros de fogo iluminavam o céu. Sabendo que era seu trabalho proteger a vila, o guarda, pela primeira vez em tempos, desceu da muralha atrás da criatura e nunca mais foi visto. Alguns diziam que ele foi devorado pelo monstro, outros que se acovardou no caminho e fugiu; uns mais duvidosos diziam tê-lo visto pela última vez se embrenhando pelos galhos das árvores da vila, assombrando as casas dos topos."


Lembrando-se da história, o Rei convocou todos da vila a se reunirem na praça, pois tinha um empolgante anúncio a fazer. A família Pinhão, que estava toda reunida para as festas, foi uma das últimas a chegar. Gismo vinha ao lado da mãe e já não precisava mais andar no círculo de proteção dos irmãos mais velhos. Ele deixava que os sobrinhos se divertissem sendo escoltados e resgatados caso afundassem na neve que cobria as ruas. Ao chegarem, foram recepcionados com um sorriso ardiloso e cheio de segundas intenções do rei. Ele disse: “Bem-vindos, Pinhões! Estávamos todos ansiosos pela chegada de um de vocês. Ouvi muito sobre o patinho feio que adotaram... Tem que ter muita coragem para criar uma erva daninha no meio de tantas maçãs boas.”

Gismo ficou grato quando todos da família, até os pequenos que não entendiam o que estava acontecendo, se juntaram a sua volta. Ele sabia que aquela visita do Rei era culpa dele e que provavelmente seria expulso de Galho Quebrado, mas o discurso que veio em seguida o pegou totalmente de surpresa. O Rei Encantado anunciou com empolgação:

“Cidadãos dessa humilde vila, há algum tempo uma criatura misteriosa foi vista nos céus próxima daqui. Há boatos de que um de seus heróis partiu ao seu encontro e nunca mais foi visto. Por isso, no dia de hoje, gostaria de dar a honra de encontrar e exterminar essa fera ao novo herói em ascensão: Gismo Pinhão! Que, se voltar com vida, terá a honra de se juntar à Guarda Nogueira.”

O Rei se sentia grandioso enquanto anunciava seu grande plano indiretamente, fingindo anunciar uma grandiosa missão.

Gismo sabia que o Rei estava tramando algo. Era do conhecimento de todos que o Rei Encantado não dava missões ao real troco de glória e fama. Mesmo assim, o jovem goblin viu naquela perigosa missão a chance de finalmente mostrar seu valor e se tornar um herói para sua vila. Com confiança, disse:

“Meu rei, eu, Gismo Pinhão, filho adotivo de Genya e Raimon Pinhão, aceito a missão de matar a criatura e, em troca, assumir meu posto como Guarda Nogueira se houver triunfo de minha parte.”

Embora sua família tenha ido contra sua decisão, afirmando que ele não precisava se colocar em perigo para satisfazer as vontades de um rei egocêntrico, Gismo sabia que aquela era sua chance de calar todos na vila que duvidaram dele, e tentaram fazer com que desistisse de seu sonho. O jovem goblin, porém, não tinha muito; numa pequena mochila, colocou alguns mantimentos: um bonequinho de palha feito pelo sobrinho mais novo, Gunter, um par de meias extras e o pedaço de tronco brilhante que a mãe disse ter vindo junto com ele. Era como um amuleto; sentia que fazia parte de seu passado e levava consigo a todo lugar. Também vestiu os óculos dados pelo pai.

Preparado, Gismo saiu de Galho Quebrado rumo ao bosque das mil nascentes, que ficava logo depois da muralha. Sabia de alguma forma que seu destino estava ligado àquele lugar, onde concluiria sua missão e traria glória à família, que sempre o protegeu do mundo cruel onde cresceu.

Chegando ao bosque, o goblin usou todas as habilidades que adquiriu na academia, sentiu o ambiente à sua volta, montou armadilhas, reconheceu possíveis perigos e se preparou para a chegada deles. O tempo parecia passar de forma mais lenta ali; a brisa que vinha dos ventos fortes acalmados pelas folhas da árvore era agradável; os sons produzidos pelas muitas nascentes pareciam música; até o quebrar de galhos por cascos de animais era lírico e harmonioso. Tudo naquele bosque parecia estar em perfeita sintonia. Gismo foi pego pensando em como o guarda das histórias que sua mãe devia ter se sentido em paz estando ali, longe da solidão da muralha, pelo menos até o encontro com a criatura que agora era seu trabalho terminar a missão fracassada. Foi tudo meio rápido demais; em um momento, Gismo contemplava a vastidão selvagem a sua volta, e no outro estava sendo agarrado por um par de imensas garras.

Sem muito o que pensar, o goblin sacou suas facas e as fincou no pé da criatura. Ouviu um grasnado ensurdecedor enquanto era arremessado abaixo; por sorte, caiu em uma clareira de águas cristalinas. Quando se levantou, perturbando o ritmo tranquilo em que a água corria em direção ao deságue, viu a fera alada que se colocava em posição de ataque à sua frente. Tinha penas de vermelho desbotado, que seguiam tons de amarelo e laranja nas pontas. As garras que sequestraram Gismo faziam estrago no chão de terra, e seu bico mortífero se projetava na direção do goblin, como quem dizia que ele era o jantar. Em uma investida rápida, torcendo para pegar a ave de surpresa, Gismo avançou com suas facas, abrindo pequenos cortes na perna do animal, que não teve tempo de levantar voo. Berrando, talvez de dor, raiva ou ambos, a gigantesca ave avançou tentando abocanhar o goblin, que de forma sorrateira desviava de seus ataques e arremessava suas facas daqui para lá em ataques eficazes. Sabendo que aquela estratégia não duraria muito tempo, o goblin, que agora se sentia como um verdadeiro guerreiro, teve uma ideia ousada. Se jogou em cima da ave para que ela saísse de seu campo de visão. Nas costas do animal, estava pronto para desferir os golpes finais no pescoço emplumado, mas sua investida imprudente não teve sucesso. Como uma coruja, a ave vermelha se virou na direção do guerreiro que, antes de conseguir pular das costas do animal, teve sua mochila abocanhada e foi lançado de costas no tronco de uma árvore a alguns bons metros de distância.

Gismo até tentou ficar caído no chão desacordado, até porque seu corpo doía, e não conseguia levantar, nem que sua vida dependesse disso, o que de fato dependia. Foi então que uma luz intensa brilhou de todos os lados. O goblin pensou que as portas do céu haviam acabado de se abrir para ele, mas aquilo estava errado; o céu não podia ser tão... tão quente. A luz começou a ganhar foco, mas Gismo, que já não tinha uma visão diurna muito boa, não conseguia ver nada. Se lembrou dos óculos de aviador do pai, os posicionou na frente dos olhos e mesmo assim não acreditou no que via. O pássaro de penas desbotadas tinha ganhado uma coloração vermelho escarlate; as pontas antes amarelas e laranjas agora brandiam em um fogo branco. A cauda alongada parecia se dividir em duas lanças de chamas, como as de uma ave do paraíso. O mais surpreendente era que a ave, agora visivelmente uma Fênix, tinha o pedaço de tronco brilhante que tinha sido a primeira posse de Gismo na boca. Aquela visão mística trazia mais respostas do que o goblin era capaz de compreender.


Na noite chuvosa em que o guarda desceu de sua muralha brandindo um par de facas cravadas de rubis, rumou em direção ao bosque onde acreditava ser o lar da criatura. Ali, longe de todos, pôde tirar o capuz, deixando suas longas orelhas de morcego à mostra; seus grandes olhos amarelos, adaptados a enxergar no escuro, o ajudaram a trilhar seu caminho pela mata fechada. Andou e andou, mas nem sinal da criatura, até que se deparou com um grande buraco próximo a uma árvore. Ao se aproximar, viu que seu interior estava bem iluminado, não por um lampião ou fogueira, mas sim por quatro ovos, cercados cada um por um item vindo direto do bosque, envoltos em um brilho quase sobrenatural.

Fascinado pelos tesouros brilhantes à sua frente, o guerreiro pegou um pequeno pedaço de tronco, mas antes que pudesse se apossar dos outros objetos, foi surpreendido por grandes garras que se fincaram em suas contas. O guarda só conseguiu sair do bosque com o pouco de vida que restava em seu ser, pois a grande ave flamejante, uma mãe, foi até seu ninho cuidar da segurança de seus ovos. Envergonhado, o guarda fugiu, sabendo que havia apagado o destino glorioso de um ser que ainda nem tinha chegado ao mundo. Lembrou-se do pacotinho orelhudo que o esperava dormindo na muralha; sabia que não teria forças o suficiente para criá-lo. Além disso, como criar um filho depois da vergonha que tinha acabado de cometer? Não. Ele morreria carregando esse fardo, mas antes deixaria o filho com uma família que pudesse amá-lo e ensiná-lo que ele poderia ser qualquer coisa que quisesse ser, sem se esconder debaixo de uma capa. Pela janela, viu uma mãe e um pai perto da lareira contando histórias para algumas crianças risonhas. Sabia que aquele seria o lar ideal e que, com aquele afeto genuíno nos olhos, aquela mãe protegeria o pequeno de todos os males do mundo. O guarda se despediu do filho, deixando com ele o seu único tesouro como sinal de que o objeto ficava, mas a vergonha dele morreria longe dali.


Gismo vivenciou o final da história que ouviu tantas vezes, a sua história, quando a Fênix encostou sua testa na dele. O destino de ambos sempre esteve fadado ao encontro; ambos foram filhotes deixados por seus pais, por motivos diferentes, é claro, mas de certa forma eles se entendiam. Ali, perto da clareira que voltava a seguir calmamente seu fluxo, formaram um laço. Galho Quebrado foi encoberta por uma sombra formada por um par de asas, a temperatura subiu, e todos da vila saíram de suas casas para ver o que estava acontecendo. Os Pinhões, temendo o pior, correram em direção à grande ave vermelha que pousava no centro da vila.

O goblin guerreiro desceu de sua montaria alada. Não teve tempo de se deliciar com as expressões de surpresa da vila, que tanto demorou para o aceitar e mesmo assim ainda não era por todos. Num segundo estava de pé, e no outro estava sendo esmagado no chão por um abraço forte de todos os membros da família Pinhão, a sua família. O rei chegou logo em seguida, claramente surpreso. Gismo acreditava que acabara de decepcionar suas verdadeiras intenções.

Não se demorou muito. Teria tempo de contar tudo para a família mais tarde. Levantou-se, dando pequenas batidas em suas roupas para tirar a poeira, ajeitou a postura como a de um guarda e disse: “Rei Encantado, temo não ter cumprido minha missão, pois aqui está a criatura da qual fui incumbido de responsabilidade de matar. Temo que tenhamos nos tornado amigos, afinal, temos conhecidos de longa data em comum...” Dito isso, sei que não posso assumir um lugar que na verdade nunca foi meu dentro da Guarda Nogueira, assim como essa vila, embora sempre seja o lugar onde meu coração está, não é o meu lugar. Anuncio aqui a todos que irei partir. Agora sei quem eu sou, de onde vim, e agora creio que devo descobrir para onde ir...", e assim foi feito. Gismo, após uma comoção cheia de abraços e choros de sua família, deixou Galho Quebrado. Seu coração estava ali, pois era onde a família vivia, mas esse mesmo coração ansiava desde pequeno por aventuras, duelos e a conquista de honra e bravura. Afinal, seu sonho era se tornar um grande herói. O goblin sempre achou que isso estava ligado à Guarda Nogueira, mas agora via que estava errado. Nas costas de uma fênix, Gismo, o goblin filho de um guarda, de um casal de elfos amorosos e irmão e tio de muitos outros, seguiu seu caminho em direção a um futuro incerto, mas que era totalmente seu.

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