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Cultura Pop é para você?

Nicolas R. Aquino












A Cultura Pop surgiu como um espelho das mudanças sociais e culturais que permeiam a sociedade. Nos últimos anos, testemunhamos uma mudança em seu panorama, permitindo que narrativas antes marginalizadas encontrassem espaço dentro dos mais diversos cenários. Essa transformação busca dar voz à diversidade e refletir a riqueza de vivências presentes na nossa sociedade.


Personagens e histórias com uma ampla gama de identidades e experiências começaram a emergir, ganhando papéis de destaque nos principais símbolos do mundinho nerd. Filmes, séries, músicas e livros que antes se limitavam a perspectivas singulares agora abraçam a pluralidade, refletindo melhor o mundo em que vivemos.


Ou pelo menos era nisso que acreditávamos até a crescente dominância de uma parcela significativa de “amantes” da Cultura Pop, que parecem se enfurecer com qualquer mínimo sinal de diversidade dentro das histórias que antes eram dominadas exclusivamente por figuras rasas e unilaterais que tanto os representam. A entidade “Nerd bem” tem ganhado força e propagado ódio e desrespeito ao diferente, algo que me faz questionar cada vez mais: para quem é a Cultura Pop?


A vigilância do grupo raivoso dentro da comunidade nerd tem criado barreiras entre aqueles que podem consumir Cultura Pop e se orgulhar disso. Na maioria das vezes, se você não faz parte do clube do bolinha, terá suas opiniões, experiências e gostos diretamente questionados e invalidados. Um dos maiores exemplos disso seja a vivência nerd da Megan Thee Stallion.


Além de ser uma figura proeminente no mundo do rap, Megan Thee Stallion também compartilha ativamente sua conexão com o mundo nerd, frequentemente falando de seu amor por anime e videogames, destacando como esses interesses foram uma parte significativa de sua vida antes da fama. Mas, mesmo assim, após a postagem de uma selfie com um de seus mangás favoritos, os comentários eram desanimadores:


“Só um lembrete, que Meg The Stallion não dá a mínima para anime ou mangá. Ela é só mais uma caçadora de influência, usando o hobby para progredir em seu grift”, dizia o tweet do usuário @BlackDGamer1.

Comentários assim exemplificam o quanto essa bolha, que vem ganhando espaço, relevância e, pior ainda, tem sido ouvida, busca restringir e diminuir a importância do nosso espaço, que foi conquistado com muita dificuldade dentro da Cultura Pop. Hoje, qualquer produto midiático que traga representatividade positiva ou negativa é automaticamente classificado como “lacração” e “cultura woke”, já que aparentemente é um absurdo termos personagens femininas, não brancos e queer ganhando destaque.


Tal comportamento não se restringe somente a Meg. Na verdade, atualmente a perseguição está diretamente ligada a qualquer vivência, representação ou destaque que destoa do clássico e idolatrado homem branco hetero. O “nerd de bem” se sente ofendido e excluído a todo momento, não reconhecendo seu local de privilégio quase absoluto, quando algo que não o representa venha a brilhar os holofotes.


Os casos são mais do que suficientes para um estudo de caso de uma turma inteira de pós-graduação, mas não precisamos ir tão longe. Basta abrir os comentários de qualquer postagem que tenha um personagem, figura pública ou ator/atriz pertencente a alguma minoria ganhando destaque, e pior ainda se estiver assumindo o papel que originalmente pertencia a uma figura branca sendo adaptada de forma diferente.


Tem sido um desafio constante encontrar um espaço seguro onde os “nerds de bem” ainda não colocaram a mão. Vivemos em uma época onde pessoas se sentem confortáveis o suficiente para cometer crimes na internet, pois," já que o Gladiador Dourado supostamente vai ser interpretado por um homem indiano, o Surfista Prateado de outra dimensão vai ser uma mulher, e o tal personagem feito de pixels do meu joguinho é queer, eu tenho todo o direito de entrar em estado de negação e atacar da forma mais horrenda possível os responsáveis por tirar aquilo que era meu!".


Conseguem perceber a problemática em tudo isso? A Cultura Pop, que surgiu da massa, que sempre fez parte de um coletivo popular diverso e plural, está se tornando um campo murado onde canais no YouTube podem discutir a aparência da Milly Alcock para saber se ela é bonita o suficiente para interpretar a Supergirl ou se Anthony Mackie realmente merece ser o novo Capitão América.


Volto novamente ao questionamento inicial: a você, leitor, a Cultura Pop é para você? E caso acredite que não, você está disposto a aceitar essa imposição do “nerd de bem”? Embora este texto tenha um teor de quase desistência em suas palavras, fique tranquilo, este colunista se mantém firme no posicionamento de que a Cultura Pop é, sim, para todos. Em um mundo onde alguns se dizem inspirados pelo Capitão Pátria, acredito que somos capazes de falar ainda mais alto.


Mesmo com discursos de ódio, nossas histórias continuam sendo contadas e ganhando cada vez mais força, alcançando mais pessoas que precisam se ver nessas representações para se enxergarem como parte deste mundo. Apesar dos pesares, confio que a Cultura Pop mantêm seu papel na propagação da inclusão e do respeito, dando força à nerds orgulhosos que se mostram ainda mais fortes do que a parcela dos “nerds de bem”.




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