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Entre Laços, Rendas e Babados: O Resgate do Rococó na Cultura Moderna

Julia de Alencar













O que você conhece sobre o Rococó? Você provavelmente conhece algo relacionado ao tema por causa da popularidade de certos momentos e personalidades históricas, que são revisitadas pela cultura pop com uma certa frequência, mas principalmente a partir do movimento recente da redescoberta e reapropriação da feminilidade.


Com certeza você deve conhecer o Rococó graças à popularização da figura da Rainha consorte da França, Maria Antonieta (1755-1793), que foi a grande influência de uma popular estética contemporânea na moda: o estilo coquette. Neste estilo, todo o luxo do Rococó se faz presente: laços, tons pastéis e babados... tudo como pequenas-grandes marcas do que a estética deixou para a modernidade.


Mas você já parou para se perguntar o que realmente ela significava na época em que estava em voga? E o que a fez voltar à popularidade agora? São essas perguntas que eu pretendo responder no texto de hoje. Vou abordar o Rococó e o Neoclassicismo, e as suas influências na cultura da época, mas trazendo também para suas situações atuais, os seus re-renascimentos. 


E nesse momento, você, meu leitor, pode estar se perguntando: “mas, afinal, o que é o Rococó?” A resposta é simples!


O Rococó foi um movimento artístico fortemente influenciado pela elegância e pela sofisticação da vida cortesã europeia, surgindo na França, no início do século XVIII, mas logo se espalhando por toda a Europa. É caracterizado por ornamentação elaborada, curvas suaves, assimetria, temas leves e românticos, e o uso de cores pastéis e dourados.

Marcou nas Artes o período de transição entre o Barroco e o Classicismo, mesmo que muitas vezes o Rococó seja confundido com o Barroco. Mas nele, diferentemente do Barroco, conseguimos notar uma liberdade do religioso; a sua arte não ficava mais restrita às temáticas da Igreja. Além disso, o movimento também incorporou um apreço pelas artes clássicas da antiguidade grega e romana, herdando essa admiração do Renascimento, que redescobriu e valorizou os ideais clássicos e humanistas. Apesar de ser visto como mais fútil e ornamental que o Renascimento, o Rococó ainda buscava inspiração nos formatos e temas clássicos, os reinterpretando. 


Nas Artes, o Rococó era representado por esculturas, pinturas, decoração de interiores e arquitetura que buscassem representar leveza e graça. Sendo essa mais uma diferencial do Barroco, que buscava "sufocar" o expectador com informações. Isso porque os artistas do rocaille capturavam cenas bucólicas, muito bem iluminadas, com tons suaves e uma sensação de movimento fluido e aparentemente despreocupado. 


A moda da época era expressada através dos trajes extravagantes usados pelos aristocratas, especialmente nos reinados de Luís XV e Luís XVI. Vestidos de seda com laços, rendas e bordados detalhados eram comuns, assim como penteados altos e elaborados decorados por plumas e joias. Maria Antonieta, em particular, foi o maior ícone de moda deste período, conhecida por seus vestidos luxuosos e por popularizar estilos como o pouf e o à la Belle Poule. Seu apreço pela arte clássica foi refletido também na arquitetura e decoração dos espaços que habitava, como o Petit Trianon, que combinava o luxo do Rococó com elementos neoclássicos. 


Se você tem interesse em entender mais a fundo a importância política-cultural da relação de Maria Antonieta com a Moda, recomento o artigo Relações entre moda, corpo e imagem na construção de identidade: Maria Antonieta


Arquitetonicamente, o Rococó destacou-se em interiores; seus palácios e prédios valorizam a passagem da luz solar, que destacava suas salas decoradas com espelhos dourados, móveis elegantes e detalhes intrincados, como as famosas salas do Palácio de Versailles. Sua ornamentação de paredes e afrescos era bastante rebuscada, mas favorecida por essa luz solar, era bem menos tenebrosa do que a opulente arquitetura Barroca. 


Na literatura, por fim, o movimento recebeu o nome de Arcadismo ou Neoclassicismo, refletindo um retorno aos valores clássicos greco-romanos e uma reação contra os excessos ornamentais do Rococó. Este movimento literário, que floresceu no final do século XVIII, buscava a simplicidade, a clareza e a harmonia das formas, exaltando a razão, a ordem e a imitação dos modelos antigos. Inspirados pelo Iluminismo, escritores arcádicos como Alexander Pope na Inglaterra, Christoph Martin Wieland na Alemanha e Tomás Antônio Gonzaga no Brasil, cultivavam uma poesia pastoral que idealizava a vida no campo, em contraste com a complexidade e o artifício urbano. O Arcadismo, apesar de sua aparente simplicidade, compartilha com o Rococó a valorização de uma estética refinada e a celebração da beleza. Em todos os sentidos, e de todas as formas, o Rococó foi poderoso em criar suas narrativas.


Nos últimos anos foi possível observar um movimento cultural de reapropriação da feminilidade, que celebra aspectos tradicionalmente considerados "femininos" e os reinventa para a era moderna. Esse fenômeno pode ser visto no estilo coquette na moda, como já citei, que se inspira diretamente na estética Rococó.


A febre restituída ao filme "Maria Antonieta" de Sofia Coppola, lançado em 2006, é um exemplo marcante dessa tendência. O filme reinterpreta a vida da famosa rainha francesa com uma visão contemporânea, misturando elementos históricos com uma trilha sonora moderna e uma estética visual rica em detalhes do rocaille. A obra de Coppola não só reviveu um fascínio pelo período, como também ajudou a popularizar um novo olhar sobre a própria feminilidade.


Te convido também, leitor, a dar uma olhada na coluna de Mulheres na Ficção aqui da Especular


Essa onda de popularização de "coisas de menina" é uma resposta à longa história de desprezo por aspectos tradicionalmente femininos na cultura ocidental. Ao resgatar e valorizar elementos como a delicadeza, a cor rosa, o romantismo e a ornamentação, esses movimentos desafiam alguns preconceitos que associam a feminilidade à superficialidade ou à fraqueza. E a influência do Rococó sobre esse movimento é evidente na celebração da beleza e na ênfase em uma estética que combina o luxo e a leveza.


Por tudo isso eu acredito que o retorno do Rococó à popularidade nos oferece uma nova maneira de enxergar e valorizar a feminilidade e a humanidade, porque ele nos lembra de que a beleza e a elegância não são sinônimos de superficialidade, mas sim expressões legítimas de empoderamento e identidade. Os tempos mudaram, e de acordo com eles houve uma ressignificação de muitos elementos chave na vida aristocrática daquela época. Afinal, mesmo a cor de rosa, os laços, os babados e os saltos altos eram atribuídos aos homens e eram símbolos de virilidade e poder, e que mais tarde seriam descartados por outros homens, buscando novos símbolos para representar a masculinidade e o poder.  

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