Frankenstein, de Mary Shelley (1797- 1851), foi publicado em 1818 e é considerado um dos maiores clássicos da literatura e a primeira obra de ficção científica moderna. Nele, acompanhamos a história do cientista Victor Frankenstein, um jovem obcecado pela criação da vida, que constrói uma criatura a partir de cadáveres. Porém, classificar a obra ao gênero terror ou ficção científica é restringir seu potencial que transcende estes gêneros e mescla-os ao horror, à ciência e à filosofia.
Na leitura de David Punter (2017), o terror da obra está na discussão da nossa própria humanidade, isto porque a criatura seria a parte de nós que negamos. Uma perspectiva interessante, pois o texto foi escrito em pleno século XIX, uma época marcada pela ansiedade causada pelos avanços científicos modernos. Avanços necessários e temidos pelo poder que daria aos homens. Daí a inspiração de Frankenstein de criar o ser que desafiaria os limites da criação humana.
Leia o texto "Mary Shelley e o Monstro Criado por Mulheres", escrito por Júlia de Alencar
O fato da obra ainda permanecer tão relevante e tão adaptada e readaptada se deve talvez justamente a esse debate: o medo existencial de ultrapassar os limites da humanidade, o homem querer tomar o lugar de Deus. Uma discussão que ao ser costurada no livro com outras como: ética científica, exclusão social, moral, marginalização e responsabilização, constroem uma trama profunda e relevante até os dias de hoje.
O Monstro de Frankenstein traz o isolamento e a alienação de uma sociedade que não aceita o diferente. Desse modo, e trazendo a leitura de Harold Bloom (2005), o verdadeiro monstro da narrativa são as pessoas, o próprio Victor Frankenstein, que conduzido por sua cegueira moral, e egoísmo, está fadado a uma tragédia.
Portanto, ler Frankenstein é refletir sobre a complexa condição humana. E o fato do livro permanecer ainda super atual reside nessas abordagens, principalmente no medo existencial. Na contemporaneidade esse debate não se restringe unicamente a morte e vida, abrange também as novas formas de inteligência e manipulação genética. Nesse viés, pensar a obra sob essa ótica nos faz refletir sobre comportamentos éticos e morais sobre aspectos subjetivos e sociais que estão construindo um novo cenário mundial.
Para além disso, em sua dissertação de mestrado, Alegrette ao discorrer sobre a repercussão na cultura pop da obra recorre a Susan Tyler Hitchcock que atribui o sucesso da obra, o fato dela ser tão conhecida hoje em dia, à suas adaptações para o teatro e o cinema, a partir disso “o monstro "assumiu vida própria", e desse modo foi totalmente inserido dentro da cultura popular” (ALESSANDRO, 2010, p.116). Fato é que deu certo e hoje é uma das obras mais conhecidas e referenciadas.
Fica aqui então o convite para que neste Halloween você conheça Frankenstein. Um livro rápido, de fácil leitura, mas com reflexões profundas que transcendem sua época.
Impossível passar incólume a este clássico.
Maravilhoso seu texto, Mateus! Frankenstein e sua criatura são sempre muito atuais. É incrível o trabalho que a Mary Shelley conseguiu compor.