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"Holy Avenger" une quadrinhos, RPG e Brasil!

Matheus Maciel, colunista da Revista Especular









Normalmente, quando escrevo um projeto maior, seja um livro, seja o roteiro/argumento de uma história em quadrinhos, até mesmo para esta coluna, costumo me cercar de obras afins, artigos, opiniões, podcasts e o que mais der na telha. Tudo em nome de trabalhar com a maior gama de informações possível.


Você pode dar uma conferida melhor na minha HQ, "Devaneio", aqui!


Enquanto trabalhava em "Devaneio", minha primeira história em quadrinhos, junto com a ilustradora Nathália Bonfim (@gactosenanquim no Instagram), procurei mais quadrinhos do que costumo ler normalmente. Dos recônditos adolescentes da minha memória, lembrei-me da brasileiríssima "Holy Avenger", assinada principalmente por Marcelo Cassaro e Érica Awano, publicada entre 1999 e 2003 pela editora Trama, atualmente republicada pela editora Jambô.


"Holy Avenger" divide sua influência entre a área dos quadrinhos nacionais e os RPGs (Role-Playing Games, os famosos jogos de interpretação de personagens, dos quais prometo falar mais no futuro), por ser o pontapé inicial para a criação do afamado cenário "Tormenta". Nos lançamentos originais, suplementos com regras eram disponibilizados para encaixar os personagens dos quadrinhos nos RPGs mais jogados à época.


Quanto ao enredo, este gira em torno da druida Lisandra, que recebe a missão sagrada de reunir os vinte itens mágicos semelhantes chamados de "rubis da virtude", com o desesperado motivo de trazer de volta à vida o misterioso Paladino de Arton. Lisandra acaba contando com a ajuda de amigos que faz pelo caminho: o pretenso ladrão Sandro Galtran, a elfa arquimaga Niele e o mercenário troglodita Tork.


Se o gênero de fantasia já é naturalmente sinônimo de cargas massivas de informações, lugares, personagens e conceitos, "Holy Avenger" leva tudo às últimas consequências. O sentido principal da narrativa do quadrinho se alinha com as narrativas típicas emergentes das mesas de RPG jogadas mundo afora. Tudo é bastante descontraído, mesmo nas situações de combate ou com mais violência. A escalada de poderes mágicos sobe em uma reta aguda-ascendente, cada volume da revista com possibilidades de personagens tornando-se mais poderosos, justamente como em uma campanha de RPG. Para acompanhar tudo isso, o ritmo é rápido e desenrolado, fluindo bem ao longo das quarenta e duas edições em que foi publicada originalmente.


O estilo de desenho e publicação, embora se aproximasse muito do mangá japonês em estética, temas e mesmo referências — não sendo incomum aparecerem pequenos easter-eggs de obras de anime e mangá famosas à época, como Pokémon e Evangelion — segue, afinal, o estilo americano, inclusive sendo lido da esquerda para a direita. O que ocorreu foi um casamento do que podia ser aproveitado dos mangás para um público mais amplo, com um formato que ficasse mais confortável e até pudesse atrair mais leitores para o que, à época, ainda tinha mangás e animes como um nicho aqui na versão brasileira da cultura pop.


Agora, vamos abordar o elefante na sala. Logo no primeiro volume, notamos que as personagens femininas são ilustradas... em trajes diminutos. Sempre uma parte de roupa rasgada, algo à mostra ou peças mais curtas. Longe de mim querer ser um purista, afinal, não é incomum a presença de nudez na arte. Entretanto, é inegável que o exagero da mesma e a exploração do corpo feminino sempre foram questões quando se fala em mangás — e mesmo quadrinhos ocidentais, vide histórias de super-heróis da chamada "era de bronze". Embora Niele seja uma personagem divertidíssima e carismática, acaba podendo ser desconfortável ver que o traje de tiras de couro dela só veda o mínimo.


Contudo, se acompanharmos as mudanças do cenário "Tormenta" até hoje, juntamente com seus lançamentos mais recentes, é possível notar certo esforço em "cobrir" as personagens femininas até, pelo menos, uma representação com mais dignidade e que case melhor com a seriedade que os criadores do quadrinho e do cenário de RPG estão levando suas jogadoras meninas e mulheres. Assim, fica o aviso desse desconforto para os que forem ler "Holy Avenger" nas publicações originais, como eu fiz.


Apesar de suas questões, "Holy Avenger" representou, em sua época, uma vanguarda das publicações de quadrinhos nacionais, inspirando muitos novos autores e divulgando a cultura do RPG no Brasil. Se quiser dar uma conferida, a editora Jambô compilou a história em 6 encadernados que ainda — até onde eu sei — são distribuídos comercialmente.

Agora, se quiser ir além e apoiar um quadrinho de fantasia nacional e recém-nascido, segue o link para adquirir o meu novo xodó, "Devaneio".


Até a próxima!


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