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Imagine: você é Dionísio


Julia de Alencar, colunista










Em homenagem às dionisíacas e ao Anthesterion, mês dedicado a Dionísio no calendário helênico, eu proponho a vocês, meus caros leitores, fazer assim como Téspis e se colocar no lugar de Dionísio. Ele, Téspis, foi o primeiro ator a interpretar os deuses em primeira pessoa, no século V a.C.; ele fez um monólogo interpretando Dionísio, e assim, determinando esse Deus como patrono das artes teatrais.


Agora, se imagine um semideus, o único semideus considerado uma divindade ao nascer, justamente por seu nascimento ter sido tão extraordinário. Sua mãe: a princesa Sêmele, uma mortal, engravida de Zeus, o rei dos Deuses. Mas para seu infortúnio, seu caso é descoberto pela esposa de seu amante, a rainha do Olimpo, a Deusa Hera. Ela se disfarça para implantar dúvidas na mente de sua mãe sobre a identidade de seu pai. Então, sua jovem mãe, ao reencontrar-se com seu amado, pede uma demonstração de amor à qual ele concede: Ela pede a ele que revele sua forma divina. Com pesar, e sem poder voltar atrás com sua palavra, Zeus cumpre o pedido e revela-se em toda a sua glória. A princesa morre instantaneamente, mas algo em suas cinzas dá sinais de vida. O feto que carregava em seu ventre, o protagonista dessa história e último olimpiano a ser aceito no Olimpo. Dionísio. Para finalizar sua gestação, seu pai abre uma fenda em sua coxa. Dessa forma, assume a tarefa de lhe gerar, se tornando pai e mãe do pequeno semideus. 


Você finalmente nasce depois de aproximadamente três meses, mas nem tudo são flores. Sua madrasta, a mente brilhante por trás do assassinato de sua mãe e da sua própria tentativa de assassinato, ainda te quer morto. Sendo assim, seu pai decide te entregar nas mãos de alguém que possa lhe criar em segurança (fontes variam sobre quem o criou). Logo o tempo passa e você começa a crescer, um jovem saudável, feliz, animado e divertido. Você passa a maior parte do seu tempo na floresta, na companhia de ninfas e sátiros, e nessa mesma floresta você encontra a coisa mais fascinante que você já viu em sua vida: uma vinha de uvas. Em seu fascínio pela fruta, você acaba criando uma nova bebida, o vinho. Esta libação era tão perfeita que você decide torná-la um presente para o mundo, e também para os Deuses, então você sai numa jornada em prol de ensinar a humanidade esse novo dom: o dom de fazer vinho. 


Mas antes mesmo de sair em jornada, seu pai lhe incumbe uma missão: para que você deixe seu status de semideus para trás e vá se juntar a ele no Olimpo, a cada nova nação que você visitar, você deve conquistar a fé desses estrangeiros e ser você mesmo reconhecido como um filho de Zeus. Então, com sua missão em mente você parte, junto aos seus companheiros rumo à Índia, à Frígia (atual Turquia) e à Tebas, a cidade onde nasceu. Durante sua peregrinação você é visto como um marginal, um devasso, um ser indigno de qualquer tipo de respeito, mas um a um você mostra seu valor, seja conquistando seguidores com seu charme ou impondo respeito pela demonstração dos seus conhecimentos de como infligir sofrimento aos mortais. 


Pense nisso: desde o primeiro momento, você é o centro das atenções. Sua chegada ao mundo foi tão marcante que até mesmo o cosmos pareceu reconhecê-la como especial. Desde a infância, todos voltavam seus olhares para você, como se você representasse a própria essência da vida. Você veio à luz como uma força da natureza, a alma viva das festas e celebrações,  a essência das performances de cada ator que abrilhanta os palcos, o promotor dos bacanais e das orgias e o inventor do vinho. Não é apenas uma divindade comum; você é um símbolo vivo de intensidade e complexidade, abraçando a dualidade entre loucura e razão, selvageria e civilização, uma ponte entre o masculino e o feminino. E o mais intrigante é que você faz as pessoas se perguntarem se também não têm um pouco desse brilho especial dentro delas. Você é Dionísio. Então, reflita sobre isso: como é ser essa figura tão única?



Se você quiser saber um pouco mais das passagens de Dionísio pela mitologia, eu recomendo os seguintes vídeos:

Mitos Miscelâneos: Dionísio - Canal Overly Sarcastic Productions



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