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Miyazaki voa ainda mais alto: As vitórias de “O Menino e a Garça”

Nicolas R. Aquino, colunista da Especular









O mais novo filme do Studio Ghibli vem sendo uma experiência única desde o seu anúncio. Seja por se tratar da volta de Hayao Miyazaki (Diretor do Studio Ghibli), que até então tinha anunciado sua aposentadoria após produzir “Vidas ao Vento” (2013), ou pelas opiniões divergentes com o fim das sessões, mas existe o consenso geral de que certamente é um filme de Miyazaki em toda a sua história e essência.


Nos últimos anos, Miyazaki manteve-se relativamente afastado das grandes produções. Ele dirigiu o curta “Boro, a Lagarta” em 2018 e começou a trabalhar naquele que seria seu projeto mais biográfico em 2016. Desde então os fãs, tanto do diretor quanto do Studio Ghibli, aguardaram ansiosamente pelo lançamento da obra-prima que viria a ser “O Menino e a Garça”, vencedor da categoria de melhor animação do BAFTA e do Oscar.


Poster de "O Menino e a Garça"
Poster de "O Menino e a Garça"

Pouco se sabia sobre o que se tratava a história desse filme, e isso foi feito de forma proposital. Para o lançamento no Japão, o filme não recebeu quase nenhum material promocional, somente um pôster enigmático com uma garça-real azul e o título How Do You Live (Kimitachi wa Do Ikiru ka).

O título do filme remete a uma das obras que o inspirou, tendo o mesmo nome: How Do You Live é o título do romance de 1937 de Genzaburo Yoshino, um clássico da literatura japonesa e o livro favorito de Miyazaki. A história, contada principalmente pelo ponto de vista de um garotinho, trata da busca pelo seu lugar no mundo, um dos principais temas abordados no filme. E para aqueles mais atentos, é possível ver que o livro está diretamente ligado à história do filme, fazendo até mesmo uma participação durante as cenas.


Acredito que a melhor forma de experimentar esse filme é vê-lo exatamente assim, sem saber muita coisa sobre o que está por vir, deixando-se ser guiado por nosso protagonista Mahito, ou quem sabe pela garça, a um mundo que transcende as barreiras do real e do imaginário, trazendo o belo, o excêntrico e o estranho em toda a sua composição.


“O Menino e a Garça” é aquele tipo de filme que divide a opinião do público. Muitos alegaram não ter entendido o que Miyazaki quis contar com essa história, outros se entregam aos visuais exuberantes e não necessitam do entendimento. Há aqueles que terminam o filme em uma super crise filosófica; também há quem diga que o filme não funcionou. As variadas opiniões dizem muito sobre o grau subjetivo e interpretativo do filme, o que torna a experiência totalmente diferente dependendo do momento e do seu nível de entrega à história.


Bom, embora eu seja suspeito para falar de qualquer obra do Studio Ghibli, é inegável que as duas horas que passei na sala de cinema me trouxeram uma onda de sentimentos, admiração, conforto e nostalgia vindos de toda a minha história com as obras de Miyazaki.

A jornada de Mahito, um garotinho de personalidade forte, carismático e que gera identificação em muitos níveis diferentes, dependendo do telespectador, é linda e desafiadora. O mundo já mencionado anteriormente vai além da sua construção, que pode parecer confusa, mas que faz inúmeras metáforas sobre a vida, a morte - ambas como contrapontos ou complementos -, sobre o tempo, o bem e o mal, e a busca por ser alguém melhor, que não só aprende com seus erros, como se permite errar.


Tudo nesse filme é uma aula, tanto sobre a história do estúdio, já que em muitos momentos é possível perceber referências aos outros filmes, como da história de Miyazaki com seu país, com sua família, a Segunda Guerra Mundial e seus efeitos na vida de pessoas em diferentes estágios dela.


É mais uma obra em que o diretor se permite voar, sendo ele um apaixonado por aviação, que em todas as suas obras traz um tributo a essa paixão. Dessa vez, faz uso das aves, e quem melhor do que elas para representar o voo em sua forma mais livre. Tal liberdade pode ser vista até nos bastidores do filme. Primeiramente, foi dado a Miyazaki total liberdade criativa para contar essa história exatamente do jeito que ele queria. Para isso, o estúdio não contou com patrocínios e financiou o projeto totalmente sozinho, permitindo que Miyazaki consiga explorar muito da sua jornada como criador e contador de histórias, não só dele, mas dos outros fundadores do estúdio que são extremamente importantes para sua formação e estão (in)diretamente incorporados na narrativa e nos personagens.


Por tudo que essa obra representa, sendo ou não o último filme de Hayao Miyazaki, é mais que merecido toda a atenção que vem recebendo. É gratificante ver uma obra 2D e oriental ganhando o Oscar, algo que não ocorria desde 2003, quando “A Viagem de Chihiro”, outra obra magnífica do próprio Miyazaki, fez o mesmo feito. Independente do seu grau de entendimento quanto ao que “O Menino e a Garça” quer dizer, vale muito a pena dar uma chance a ele. Tenho a plena certeza de que você sairá outra pessoa após o fim do filme.




 




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2 Comments


"O Menino e a Garça" para mim só comprova que quem nasceu para a arte não consegue se afastar dela. Miyazaki é um gênio!

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Esse filme tocou meu coração profundamente, fiquei mt feliz de aprender mais sobre ele e tudo ao redor da produção com seu texto. Quem estiver em dúvida se assiste ou não. não perca a oportunidade de viver a experiência de um filme Ghibli no cinema!

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