top of page
  • Instagram

Noiva Cadáver: até que a morte nos... una?

Nathália Bonfim












O medo e nervosismo sobre um casamento são sentimentos comuns. Ainda mais se esse casamento foi arranjado e há, em ambos os noivos, uma grande pressão e expectativa em cima de ambos.


Victor Van Dort é um jovem de bom coração, muito inseguro e desastrado, e que toca piano muito bem. Ele deve se casar com Victoria Everglot, uma bela moça a qual não nos é mostrado muito de sua personalidade e gostos, visto que a jovem vive presa dentro da formalidade de suas roupas e de sua família. Ela tem apenas uma missão: salvar sua família da miséria eminente com um bom pretendente.


Entretanto, Victor não se sente pronto para este momento, sendo incapaz de sequer treinar o discurso de seu voto de casamento, atrapalhando e gerando dúvidas nos pais de Victoria se ele seria o pretendente certo. Precisando arejar a mente, Victor decide, durante a noite, fazer uma caminhada noturna mais afastada da cidade para treinar então, seus votos. Após recitá-los com louvor, Victor encaixa a aliança em um pequeno galho próximo ao chão, simulando o dedo anelar de Victória. 



O que ele não esperava, é que o galho seria, na verdade, o dedo anelar de outra noiva: uma noiva cadáver. 


Emily era seu nome, e ela estava aguardando ansiosamente por um pretendente que recitasse os votos com clareza e paixão, para que finalmente pudesse se casar. E é assim que Victor conhece A Noiva Cadáver e inicia sua jornada para o mundo dos mortos, deixando seu casamento mundano momentaneamente para trás. 


Sendo um dos mais aclamados do diretor e autor Tim Burton, a animação em stop-motion de 2005 é baseada num conto russo-judaico do século XIX. No conto, ao descobrir que acordou o cadáver com seus votos de casamento, o jovem noivo leva sua futura esposa para um rabino local, que anula o casamento declarando que os mortos não podem ser reivindicados pelos vivos (guardemos essa frase, pois ela resume bem o dilema central da trama). Com um grito agudo, o cadáver então se desfaz em uma pilha de ossos desconjuntados, para nunca mais se levantar.


Eu diria que para além da temática dos morto-vivos, cadáveres e toda a estética conhecidamente macabra do Tim Burton - até porque a parte em que vamos para o mundo dos mortos é bem mais animada, colorida e divertida que no mundo dos vivos -  o verdadeiro terror não reside nos objetos os quais cito acima, mas sim, nas entrelinhas da história de Emily, a Noiva Cadáver. Afinal, em certo momento da história nós nos perguntamos: o que aconteceu no dia do casamento de Emily, para ela ter morrido em seu vestido de noiva? Porque ela precisa tanto se casar novamente? 


Sem entregar muito da trama, é descoberto que a garota foi morta por seu futuro esposo, que desejava se apossar de sua fortuna. Sendo assim, para além do horrível ocorrido com Emily, sua história agora passou a ser marcada por sentimentos igualmente terríveis: a enganação, traição, insuficiência e a solidão. Casar agora, mesmo como uma cadáver, provavelmente preencheria o vazio deixado por ter sido morta antes mesmo de subir ao altar, pela pessoa em que ela amava e confiava. 


Talvez, o casamento pudesse ser a cura para essa enorme ferida de Emily de ter sido morta sem entender o que ela poderia ter feito de errado para merecer esse cruel destino de eternamente vagar nesse limiar de morte e humanidade, de não ter corpo, mas ainda assim sentir. Sua angústia é belamente retratada em uma das canções do filme:


“Quando toco a vela acesa, eu não sinto dor

Tanto faz se estou no frio ou no calor

O meu coração não bate, mas ainda assim se parte

E não deixa de sofrer, recusando se render

A morte em mim está

Mas ainda tenho lágrimas pra dar”



Emily está condenada a, para sempre, ser a dama de honra e nunca a noiva. A entender que os mortos e os vivos não podem se unir, e que, como morta, ela tem apenas uma escolha: esperar e assistir a vida acontecer do lado de cima.


A Noiva Cadáver é um filme primoroso esteticamente, que tem sua beleza nas ironias e nos toques de acidez entre a monotonia e violência do mundo dos vivos, e a festa e compaixão do mundo dos mortos. Victor, Victoria e Emily nos revelam de forma simples complexidades e angústias de seus deveres individuais e sociais nessa trama trágica e romântica, nos fazendo refletir sobre o valor daqueles que amamos, apesar dos nossos deveres sociais. Um clássico do terror e da animação que vale a pena ser visto e revisto!

32 visualizações1 comentário
bottom of page