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O drama do silêncio pela sobrevivência

Cleiton Lopes











Um dos elementos mais importantes de um filme de terror é o som. Desde o jumpscare (momento em que repentinamente algo salta a tela, acompanhado de um som estridente para assustar audiência), até dar nome a um tipo de personagem como a scream queen ou “Rainha do Grito” em português, que são as atrizes famosas por dar gritos marcantes enquanto correm de mascarados. Visto isso, seria possível (ou funcional) um filme de terror que o som é um fator a ser evitado? 


Sim. 


A prova disso é a franquia que chega agora ao seu terceiro capítulo em Um Lugar Silencioso: Dia Um.


Como o próprio título sugere, aqui acompanhamos os primeiros momentos em que a sociedade é invadida por uma raça alienígena que ataca quem fizer qualquer barulho. Assistimos a como as autoridades tentaram dar conta da situação e como os cidadãos descobriram o que podiam ou não fazer para sobreviver. Tudo ainda sob o ponto de vista de pessoas comuns. Não existe uma explicação de qual planeta as criaturas vieram ou qual o nome delas ou coisa do tipo. O que é ótimo, pois coloca a nós espectadores no mesmo pé que os protagonistas. Diferente de outras ficções científicas que estamos juntos às autoridades e especialistas colhendo informações à frente de painéis gigantes e ligações para o presidente dos Estados Unidos.


O diferencial deste novo capítulo é que o terror aparece em menor proporção e o foco do filme são as relações humanas. E o interessante é que a humanidade é reforçada por um personagem não humano que é o gato Frodo (para mim, a real estrela do filme). É ele quem faz a ponte entre os dois protagonistas de Um Lugar Silencioso: Dia Um. Um é sua dona, Samira (Lupita Nyong’o), uma mulher com um câncer em estado avançado cujo o pet é seu companheiro. Outro é Eric (Joseph Quinn) que apesar de uma situação financeira e social melhor que a de Samira, já era perdido na vida mesmo antes da invasão alienígena. No meio de toda tragédia e correria eles acabam esbarrando com esbarrando com ele. Ainda temos que lembrar que estamos falando de um homem branco em oposição à uma mulher negra em um mundo ainda muito preconceituoso.


Entre os momentos em que Frodo some e foge de forma inesperada a relação dos dois vai se construindo. Aliás, para quem tem pets são momentos de puro desespero. Para quem tem gato como eu, é ainda pior pois a gente sabe as loucuras que esse ser consegue fazer. O melhor é que não existe uma inclinação romântica como é de costume em filmes que temos o desenvolvimento do relacionamento entre homem e mulher (até hoje me dói aquele beijo entre Rey e Kylo Ren em Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker).


A busca de ambos pela sobrevivência acaba construindo uma relação de companheirismo e humanidade. Isso é muito interessante de se observar. O filme então, tem um desenvolvimento nesse ponto, fazendo oposição a todo o desespero e egoísmo que acontece ao redor, e que provavelmente aconteceria no mundo real, em que é cada um por si e que ocasiona mortes em massa.


Para além do gato fujão, o desespero está no medo dos mínimos barulhos. Coisa que é feita de forma excelente nos três filmes. Minha sorte ainda foi de ir assistir ao longa numa sessão que estava vazia e as pessoas que lá estavam respeitaram o silêncio e a experiência foi completa. Uma pasta que cai, um piso em falso que os personagens pisam já nos deixa quase arrancando o braço da poltrona no cinema. Isso é combinado com a velocidade e a fúria que as criaturas têm ao atacar o que faz som, fazendo ser impossível sobreviver a qualquer ataque.


Acredito que a mensagem que fica ao final de Um Lugar Silencioso: Dia Um, é que muitas vezes (ouso dizer; na maioria das vezes) os monstros na verdade são os seres humanos. Ao mesmo tempo, existe alguma gota de esperança em meio a tanto egoísmo, racismo e preconceito que existe por aí.


Tudo graças ao gatinho Frodo, quem nos passou o sábio ensinamento.



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