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O medo angustiante do desconhecido na Ficção Científica

André Agueiro












Unir ficção-científica e terror de forma funcional pode ser um desafio imenso quando não entregue às pessoas certas para lidar com esses gêneros em conjunto. No entanto, pode funcionar muito bem se a proposta conseguir arrancar arrepios de medo, devido à genialidade dessa combinação.


É o que acontece quando assistimos filmes como Alien (1979) e The Thing (1982), onde uma questão principal surge: o que de fato nos deixa aterrorizados com essas criaturas tão grotescas? Podemos, de certa maneira, dizer que o visual medonho e o instinto de sobrevivência desses alienígenas (que culmina em várias mortes humanas) são pontos predominantes, em um primeiro momento. Porém, conforme a reflexão se aprofunda, notamos que a principal fonte desse medo angustiante acontece pelo desconhecimento sobre a periculosidade desse ser extraterrestre para a vida humana, e não menos importante, a completa ignorância sobre como exterminá-lo antes de virarem presas deste.



Como disse H. P. Lovecraft,

“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido.”

É desse elemento em específico que Ridley Scott e John Carpenter (diretores dos filmes citados) tentam causar no espectador, que deve lidar com a tensão que esse medo da imprevisibilidade traz. 


Ambos os filmes se encarregam em mostrar a curiosidade incessante do ser humano em entender tudo ao seu redor. Quando nos deparamos com algo quase inexplicável, esse pavor das consequências que poderíamos sofrer aflige a calma de qualquer um, ponto que trabalhei em minha última coluna, acerca do romance Solaris. A diferença é que em The Thing e Alien as criaturas se mostram terrivelmente hostis desde o início, o que aumenta o grau de paranóia e desconfiança condicionada pelo isolamento da civilização que essas personagens são submetidas, seja numa estação de pesquisa na Antártica ou numa nave espacial que está a meses de distância do Planeta Terra.


Em The Thing, esse sentimento é ainda mais aflorado pois o alienígena que nos é apresentado tem a capacidade de se metamorfosear em qualquer pessoa, de forma discreta. Isso aumenta ainda mais a tensão, uma vez que o intruso pode ser qualquer um naquele ambiente restrito e fechado que vemos no filme. É por isso que Childs, com uma alta frequência, teima a suspeitar de MacReady, que quase é morto em razão dessa paranoia levada ao resto de seus companheiros de equipe. Em Alien, observamos que embora o Xenomorfo seja incapaz de se camuflar virando uma pessoa específica, ele consegue agir de forma silenciosa, não revelando aos sobreviventes quais artimanhas utilizou para capturar uma nova presa, e o mais importante: capturando um por um.



A imprevisibilidade de lidar com o desconhecido afeta completamente a tomada de decisão das personagens, e é também o motivo pelo qual todos começam a suspeitar e agir uns contra os outros. O desespero causado pelo medo de morrer a qualquer instante é o suficiente para desconfiar de seus colegas, os quais se tornam possíveis responsáveis pelas mortes rapidamente. Ambos os filmes possuem cenas emblemáticas que instauram de vez esse novo olhar que os grupos de personagens fomentam entre si. Daí a busca por evidências começa, e consequentemente as novas descobertas desagradáveis que isso traz. 


O parasitismo das criaturas é algo completamente arrepiante e espantoso ao mesmo momento: tanto em The Thing quanto em Alien o extraterrestre implode de dentro das personagens, que são usadas como hospedeiras, a fim de garantir sua sobrevivência. Os efeitos especiais práticos dessas obras cinematográficas deixam tudo isso mais intenso ainda, com sangue e secreções diversas sendo expelidas pelas criaturas, as quais forçam sua saída do peito de humanos “possuídos” por elas. Posso confirmar que essas cenas são muito mais efetivas em entregar medo ao telespectador do que muito do CGI utilizado no cinema atualmente, e talvez seja um dos motivos pelo qual ambos os filmes sejam citados como grandes clássicos de filmes de terror sci-fi.



Situações desesperadoras levam a decisões impensadas. Nos filmes podemos notar que tudo começa a desandar quando mais vítimas aparecem em um menor período de tempo, atrapalhando uma possível descoberta sobre como derrotar essas criaturas resistentes a praticamente tudo. As cenas de destruição presentes nas obras são agonizantes, e deixam o espectador ansioso para observar se houve sucesso ou não nessa tentativa de aniquilar o extraterrestre. São momentos frenéticos, em que aquele sentimento sufocante de prender a respiração de tanto pavor causado aparece. Em especial, Alien traz uma cena final que pode causar ansiedade generalizada (ocorrendo após uma explosão massiva), protagonizada pela personagem Ripley ao agir com sangue frio para se livrar de uma vez por todas daquela criatura horripilante.



De fato, a racionalidade deixa de ser o principal ponto de âncora do ser humano em situações tenebrosas nas quais as personagens são submetidas nos filmes. Ambos são excelentes fontes de debate até hoje, e merecem o título de clássicos de seu gênero.


Lidar com algo novo e inseguro, como as criaturas terríveis dessas obras cinematográficas nos faz refletir sobre a certeza da superioridade humana sobre qualquer outro tipo de organismo diferente do seu. Essas noções são desafiadas e colocadas a prova para o grupo de pessoas que será vítima desse inesgotável desejo humano por conhecimento, e é claro, que como em bons filmes de terror, resulta na morte de vários personagens, um por um, até que um novo final boy ou final girl é eleito sobrevivente pela sua sagacidade ao superar os desafios que essa situação desesperadora impõe. Apenas o mais preparado para enfrentar adversidades inesperadas consegue se livrar da morte, devido a sua capacidade de enfrentar friamente esse medo paralisante do que não podemos compreender.

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2 Comments


Enfrentar friamente, talvez o segredo para muitos desafios palpáveis, onde a arte não apenas imita r sim explicita a vida! Ótimo paralelo entre as obras, lembro-me de momentos quando assisti ambas! Parabéns.

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Explicita a vida de fato, e deixa o espectador em agonia hahaha. Muito obrigado :)

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