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O nerd que cresceu em mim: a Jornada de Herói de um colunista pelo multiverso pop

Uma apresentação por NICOLAS R. AQUINO


INTRODUÇÃO


Sejam bem-vindes! Apelidei carinhosamente esse espaço de “Especula Pop”, trazendo o compromisso especulativo da revista à minha área de pesquisa. Quando fui convidado a escrever para uma coluna semanal, fiquei inicialmente com medo de assumir tal compromisso; em seguida, veio a ansiedade até, enfim, a aceitação. Como nerd de carteirinha desde que me entendo por gente, é uma honra imensa assumir esta coluna, voltada à vastidão multiversal da cultura pop. Como forma de iniciar nossos encontros semanais, optei por contar brevemente minha jornada no tema, me aventurando por obras, visuais e literárias, games e grandes franquias que me moldaram tanto como pessoa quanto como pesquisador. Mas antes de embarcarmos nesta “história de origem”, é interessante que entendamos um pouco do que é a própria cultura pop.


A fim de trazer um tom informativo à coluna, fui atrás dos possíveis significados para cultura pop e, depois de muita leitura, cheguei à mesma conclusão que muitos outros pesquisadores: não existe necessariamente uma definição para este fenômeno. Vale dizer que de fato interpreto a cultura pop como um fenômeno, responsável por abarcar boa parte do que está presente no nosso cotidiano. Podemos, porém, dar como responsável para o seu surgimento a Pop Art, tendo muitos especialistas dito a cultura pop surgiu como ramificação, mas trazendo para o mundo que vivemos no hoje. Vejo principalmente como um termo guarda-chuva para todo produto cultural que “cai na boca do povo”, seja uma música ou um artista que está em alta; uma série que entra no top 10 em seu respectivo streaming; um livro que bomba no TikTok; os jogos mais comentados da temporada; um filme de alta bilheteria e etc. Enfim, tudo aquilo que gere interações entre um grupo ou mais.

Como um bom consumidor do mundo pop, abraço esta coluna como um espaço de indicações, opiniões, debates e, principalmente, um espaço de apreciação a esses ícones culturais, que conectam uma pluralidade de pessoas. Convido vocês a viajarem pelo tempo e pelo espaço, indo do Parque dos Dinossauros a Gotham; ou, se preferirem, às guerras nas estrelas. Espero trazer boas doses de nostalgia, assim como atualizações recorrentes sobre a gigantesca teia de hits culturais, que não apenas molda gerações, mas cria legiões de fãs por todo o mundo.



UM COMEÇO JURÁSSICO


Ao tentar dar início à minha jornada de herói com a cultura pop, tentei resgatar nas memórias quando tive meu primeiro contato com um grande produto cultural, mesmo que ainda não tivesse noção do que isso significava. Escolhi ''Um começo jurássico'', não apenas por ser um grande clássico, tendo a obra construído um gigante time de apreciadores da cultura pop, mas porque em mim, de fato, tudo começou no jurássico, com dinossauros. Sendo um típico garoto estranho que preferia miniaturas de animais ao invés de carrinhos, cresci sonhando em ser um paleontólogo famoso que daria nomes a novas espécies. Quem sabe um Nickssauros-rex? (Na minha cabeça de criança fazia muito sentido!). Agora, imaginem como minha versão mais nova ficou quando, em uma locadora próxima de casa, aluguei o DVD de Jurassic Park (1993) de Steven Spielberg.


Portões do Jurassic Park se abrindo (Imagem: Reprodução/Netflix)

Creio que nunca irei esquecer o quão maravilhado fiquei ao ver John Hammond apresentando para o Doutor Alan e para a Doutora Ellie o Parque dos Dinossauros. Lembro de pular no sofá com o barulho que os dinossauros produziam; de como nunca esqueci a frase icônica do Dr. Ian Malcolm: ''A vida encontra um meio''; ou de como fiquei louco procurando em todas as lojas uma camisa com o logo do parque. Certamente eu não sabia o que era cultura pop naquela época, mas ter aquele primeiro contato com uma franquia, que aparentemente todo mundo conhecia, foi surreal. Afinal, Jurassic Park já era um clássico do cinema muito antes de eu nascer, e eu me sentia um garoto crescido conversando com os adultos sobre “o quão assustadora era a cena dos personagens fugindo em um Jeep estilizado dos gigantes que os perseguiram” (também é válido dizer que desde aquele dia decidi que teria um Jeep, até porque nunca se sabe quando terei que fugir de um T-rex furioso!). Da mesma forma, lembro exatamente de como fiquei impressionado com o tom realista da cena em que os paleontólogos examinam a triceratops.


Sem saber, no momento em que vi o parque dos dinossauros pela primeira, e das infinitas vezes que veria com o passar dos anos, fui introduzido ao mundo da cultura pop e à irmandade que encontraria nas salas de cinema anos depois, quando o Jurassic Park, que já era um gigante, se tornou Jurassic World.


Triceratops sendo examinada pelo Doutor Alan e a Doutora Ellie (Imagem: Reprodução/IGN)

MINHAS VIAGENS INDIRETAS ( E DIRETAS) PELO JAPÃO


É difícil encontrar alguém que não tenha pelo menos alguma referência do que seria Pokémon. Alguns podem responder com: ''Não é aquele desenho do rato que solta raio?'' ou ''Meus pais me proibiam de assistir porque tinham mensagens subliminares''. Dentre essas e muitas outras respostas, é certo que Pokémon vem fazendo parte de gerações e gerações, de crianças e adultos.. O meu “eu” de dez a doze anos se achava velho demais para desenhos da TV Globinho e buscava explorar novos canais; como eu só tinha acesso à TV aberta na época, trabalhei com o que possuía. Foi em um desses canais, que eu nunca decorava os números, que fui fisgado pela música tema que mais marcou minha infância: o clássico ''Pokémon, temos que pegar!''.


Assim como Jurassic Park, que me introduziu a um mundo de fã, com Pokémon não foi diferente. A ideia de carregar seis criaturas com poderes em bolinhas era tão absurda que foi praticamente amor à primeira vista (mesmo que eu nunca tenha conseguido decidir quais seriam essas seis). Acompanhar Ash e Pikachu viajando por regiões; passar pela difícil missão de escolher um inicial; fazer amigos; e capturando novos monstrinhos era tudo que o meu “eu mais novo” queria fazer. A verdade é que mesmo com o meu “eu mais velho” fazendo faculdade de comunicação, meu sonho sempre será ser um mestre Pokémon.



Ash e Pikachu no seu primeiro encontro (Imagem: Reprodução/Netflix)

Esse novo mundo apresentado a mim era tão diferente em tantos sentidos! Diferente pelo conceito, pelos designs de cada Pokémon e, o que mais chamava minha atenção, pelo estilo de animação. Naquela época eu ainda não sabia a diferença de animações ocidentais e orientais, muito menos que elas tinham uma denominação própria; mal sabia que ao me aventurar pelos programas dos canais fosse embarcar ao coração do Japão com os clássicos.


Quando digo clássicos deixo claro aqui que são aqueles aos quais eu tinha acesso. Anos depois eu conheceria os verdadeiros pais dos animes, mas a tríade que me foi apresentada na TV Cultura era formada por: Naruto, Dragon Ball e Yi Hu Gi Oh. Como muitas criança naquela idade, sabia que quanto mais ação, lutas e sangue um desenho/anime tinha, era um sinal de que estava me tornando mais velho. Enfim, eu cresci. E hoje devo ter decorado o nome de pelo menos 850 monstrinhos de bolso… a marca Pokémon se tornou a mais lucrativa do mundo pop e posso dizer que as animações japonesas viriam a crescer em mim ao ponto de me tornarem um completo fanboy do Studio Ghibli. Com isso, posso dizer que esse foi o meu primeiro hiperfoco pop; meu estilo de vida até que um certo grupo de jovens, que morava em uma torre em formato de T, chegasse na minha vida.


JUMP CITY ME APRESENTA AOS SUPER-HERÓIS:


Igualmente marcante como a abertura de Pokémon, a música tema dos Jovens Titãs toca na minha cabeça com uma frequência nada normal. Jump City pode não ser tão famosa quanto Gotham e Metrópolis, mas foi a cidade que me apresentou ao conceito de super-heróis. Conhecer os Jovens Titãs naquela animação belíssima, que tinha suas influências claras nos animes, era o que faltava para meu kit nerd estar completo. Ver cinco jovens, sendo um meio robô com um visual irado, uma princesa alienígena supergentil e poderosa, um garoto verde descolado, que se transforma em qualquer animal, e uma garota sombria com um passado misterioso liderados por Dick Grayson, vulgo melhor Robin, combatendo o crime, era tudo o que uma criança (que jurava já ser um adolescente) poderia querer.


Jovens Titãs na animação de 2003 (Imagem: Reprodução/Teen Titans Wiki - Fandom)

Os Titãs representavam muito do que eu, e acredito que muitos jovens, queriam ser. Não só pela liberdade quase incondicional que eles tinham, mas pela possibilidade de reunir seus melhores amigos e, juntos, mudarem aquela realidade. Eles viajavam bastante, e todas essas viagens se tornavam filmes, o que eles visitam Tóquio, ou conheciam outros jovens poderosos, como a Terra e o Aqualad. E, ao mesmo tempo, eles lutavam contra o Exterminador e o Trygon, adultos poderosos e perigosos.


Tudo neles exalava a força juvenil que parecia só existir nas crianças comuns durante o recreio na escola. Todo o conceito de existir inúmeras pessoas com poderes, e às vezes até com a falta deles, sempre me encantou muito. E, assim, a minha paixão por super-heróis só cresceu com o tempo, me apresentando a outras facetas da Cultura Pop: no cinema, me fazendo estar nas primeiras semanas indo ver todos os lançamentos; da literatura, quando minha obsessão por quadrinhos surgiu, de suma importância para que eu entendesse todo o mundo à minha volta e muito da nossa sociedade. Assim, enquanto eu crescia, meus heróis sempre estavam do meu lado, me ensinando lições valiosas, passando o manto para uma nova geração, e protegendo o universo. Eles me formaram como o adulto que sou hoje, e agora que cresci destravei a chave para explorar todo o multiverso pop. Nada melhor do que superseres para nos ensinar sobre o multiverso!



CRESCI E AGORA TENHO IDADE SUFICIENTE

PARA EMBARCAR NO MULTIVERSO POP


Nessa nova skin de jovem adulto, posso dizer que a cultura pop que me foi apresentada quando criança não chega a ser 15% do que ainda estava por vir. Toda essa jornada criou tantas realidades fora da realidade sagrada que é impossível o tear temporal controlar, sendo uma das bênçãos do mundo moderno globalizado o acesso a um pouco de tudo e de todos os lugares. Algo que para um consumidor e pesquisador do fenômeno Cultura Pop é de suma importância. Nada me anima mais do que descobrir ou ser apresentado a uma obra diferente.


Durante todo esse processo, fui me tornando um acumulador de referências, um entusiasta em procurar obras de autores de todos os lugares, fazendo dessa experiência um grande aprendizado cultural. É interessante como quando crescemos todo o nosso repertório passa a se encontrar em algum momento; uma paixão infantil pode se tornar seu trabalho no futuro; um jogo que você curtiu muito pode te trazer novas conexões com outros jogadores; um filme que faz sucesso pode movimentar bilhões e alugar um triplex em todas as redes; e toda novidade pertencente a esse esquema pop pode ser reportada por um veículo às vezes especializado naquele assunto específico. Situações como essas e muitas outras representam o que é crescer sendo integrado ao fenômeno Cultura Pop, e fazer parte dele, seja ativamente ali produzindo, comentando e alavancando a moral de qualquer objeto, ou passivamente, também como consumidor. No fim do dia, somos todos agentes culturais e criamos e compartilhamos um universo em mundo aberto pop.



CONSIDERAÇÕES FINAIS


Embarcar no multiverso da cultura pop é viver a experiência de ser um Homem-Aranha, conhecer inúmeras versões de si mesmo que estão prontas para embarcar em algo novo diariamente. Acredito muito no poder que a Cultura Pop vem ganhando com o passar dos anos; somos uma comunidade engajada que costuma cometer muitas loucuras, mas em geral para o bem…


O meu "eu criança" jamais imaginaria que quando atingisse a idade certa estaria indo a grandes eventos que celebram a Cultura Pop em todas as suas formas, nem que faria grandes amigos graças aos interesses em comum por algum, ou alguns, desses universos. Com essa apresentação, espero ter passado um pouco da emoção que foi crescer desbravando esse fenômeno e mostra como a Cultura Pop foi importante para minha formação, tornando-se minha área de pesquisa com o objetivo de cada vez trazer mais pessoas a esse multiverso em constante expansão, e que busca cada vez mais representar o máximo de realidades possíveis.


Aranhas em Homem-Aranha no aranhaverso (Imagem: Reprodução/Marvel.com)

SAIBA MAIS:











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2 Comments


Eu já AMO a Especula Pop. Sou suspeita pra falar isso porque amo esse tema. Ansiosa pra ver o que você vai fazer por aqui, Nicolas!

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Realmente, digno de uma jornada de herói! Não tem como a gente negar a Cultura Pop, ela está em tudo mesmo

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