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O perigo constante na vivência de uma mulher retratado em "The Royal Hotel"

Thainá Christine










Sempre é difícil – e exaustivo – explicar o porquê de vivermos em constante medo. Não há palavras para descrever a sensação sufocante de andar sozinha em uma rua deserta, seja noite ou seja dia. Às vezes, a rua nem precisa estar deserta. Não existe expressões que consigam compartilhar o desespero de entrar em um ônibus vazio, só com o motorista e o cobrador. Ou até mesmo de ter que sentar do lado de homens desconhecidos, sem saber o que poderá acontecer. Sem contar nas vezes que confundem educação com paquera, e isso por si só gera mais do que dores de cabeça.

Não tem como explicar o medo em todas as situações vividas por nós. Não tem como eu citar todas as situações possíveis de acontecer. É tudo infinito demais, borrado demais, sem garantia de segurança nenhuma.

Viver, sendo mulher, já é uma vivência constante com o medo, o sentimento que mais andamos de mãos dadas, que nunca nos abandona. É sufocante ser mulher.

O engraçado é que nunca imaginei que alguém pudesse pegar toda essa sensação e coloca-la em um filme de 1h30min. que mais parece horas intermináveis. Você torce para o filme acabar logo e para as protagonistas ficarem bem, mesmo sentindo a todo momento que isso não acontecerá.


Li um comentário sobre esse filme, o The Royal Hotel, que resume muito bem a trama para mim. Essa pequena observação e opinião dizia que só quem é mulher entenderia o real significado do filme, e isso é totalmente verdade.

A trama de The Royal Hotel é bem simples: são duas amigas, Hanna e Liv, que estão viajando pela Austrália. Quando ficam sem dinheiro elas decidem procurar um emprego, aceitando ser garçonetes em um bar em uma cidade pequena (e longe). O problema é que os consumidores desse bar são majoritariamente homens.


A Hanna é nosso instinto, pois está sempre alerta, com os olhos abertos e atenta as intenções dos homens. Liv é como a gente gostaria de viver, sem ter que desconfiar das atitudes duais dos outros, confiando em quem não conhece e se divertindo a cada momento de sua vida.


Junto de Hanna, a gente é expelida em um local desconhecido, sem proteção. Nós sentimos a angústia dela e entendemos cada ação da personagem. Entendemos sua indignação quando é pedida para sorrir mais e quando a falta desse ato é vinculada a sua vida sexual. Sentimos a sua raiva e tristeza quando a melhor amiga não quer escutá-la e a vê como alguém sem graça, que não quer curtir a vida. Sofremos junto com ela porque tudo – exatamente tudo e todos – é uma grande bandeira vermelha sinalizando que elas estão em perigo constante. Arrisco a dizer que até a amizade cai nesse conceito.

Para as mulheres, será um filme difícil de assistir, agoniante e verdadeiro demais. Nós somos a Hanna e vivemos todo dia como ela. Com o mesmo medo, as mesmas dores, as mesmas incertezas e as mesmas solidões. A mesma vivência centralizada em um machismo expelido por todos a nossa volta.

Mas para quem me perguntar, no futuro, como é sentir medo do que eu nem sei, esse filme será uma dica certeira. Só espero que entendam a mensagem.

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