top of page

O que o Japão nos ensina sobre a política na Cultura Pop?

Bianca Lais









A Cultura Pop, também conhecida como “cultura de massa”, se estabelece principalmente no contexto pós-guerra, onde assume um modelo “linha de produção”, especialmente desenvolvido pelos norte-americanos. Ricos, os Estados Unidos participaram de inúmeros incentivos econômicos para reestabelecer nações destruídas pela Segunda Guerra Mundial e, em troca, inseriram sua cultura e costumes nessas nações. Esse é o soft Power, definido como a capacidade de um país influenciar outros por meio de aspectos culturais e valores transmitidos, ao invés de usar o poderio militar ou a opressão econômica.


O Japão, como parte do eixo de guerra derrotado e devastado após os ataques de Hiroshima e Nagasaki, tem seu território ocupado e o soft power norte-americano implantado através de seus produtos culturais, influenciando diretamente na construção dos mangás. As comics de super-heróis e os filmes estrangeiros inspiraram Osamu Tezuka, conhecido como o “pai dos mangás”, a definir uma nova forma de construção de narrativas visuais, diferentemente dos quadros abertos que já existiam para os japoneses ou da forma estática dos quadrinhos ocidentais. Tezuka constrói, estudando planos cinematográficos, uma narrativa visual com movimentos, quadros dinâmicos, ângulos diversos e exagero nas expressões faciais a fim de transmitir emoções e ações com mais assertividade.




O Star System de Osamu Tezuka (Imagem/Reprodução: WordPress)
O Star System de Osamu Tezuka (Imagem/Reprodução: WordPress)

A influência de Tezuka para a construção narrativa dos mangás é revolucionária e os transformaram no que conhecemos hoje. Desse modo, o soft power do governo americano se converteu no soft power do próprio governo japonês, a partir do momento em que os mangás reuniram suas influências externas às internas. Temas comuns aos japoneses se infiltraram nos mangás e transformaram aquele novo estilo de contar histórias em uma marca cultural do Japão. Desde os anos 80, os mangás e animes japoneses têm ganhado o mundo, permitindo uma troca cultural contínua e crescente, criando influência para outras produções, até mesmo para a cultura norte-americana.


A difusão da Cultura Pop japonesa cresce ainda mais com a internet e com o serviço de plataformas de streaming que aumentaram a sua popularidade e disseminação global nas últimas décadas. Séries como “Pokémon”, “Dragon Ball” e “One Piece”, hoje alimentam uma base de fãs ao redor do mundo, apresentando aspectos da cultura japonesa, suas tradições, culinária, modo de vida e filosofias sobre amizade, perseverança, respeito e justiça que reverberam em públicos de diferentes culturas. Não à toa, a indústria de mangás e animes é uma das mais lucrativas do Japão, contribuindo significativamente para a economia do país. Basta assistir ao anúncio das Olimpíadas de Tóquio, feita no Rio de Janeiro em 2016, onde o primeiro-ministro japonês da época, Shinzo Abe, aparece vestido de Mario, da franquia de jogos Super Mario.


Para o Japão, a Cultura Pop é mais do que um meio de entretenimento ou uma forma de escapismo. Ela é uma forma de fazer política, fortalecer sua economia e empregar sua diplomacia pelo mundo. Os produtos de merchandising relacionados à indústria dos mangás e animes geram mais do que receita em exportação. Eles são responsáveis por fomentar o turismo, atraindo fãs em busca dos cenários de seus mangás e animes favoritos. Por aumentar a visibilidade e a aceitação da cultura japonesa, através de convenções e exposições temáticas. E ainda promovem o intercâmbio educacional e cultural, como programas de aprendizado da língua japonesa, muitas vezes incentivado pelo interesse inicial despertado pelos mangás.


Como um dos grandes expoentes da Cultura Pop global, o Japão nos ensina como utilizar o aspecto social, político e cultural para transformá-lo em produto e propaganda de sua própria nação de forma positiva. Vemos aqui que a política sempre esteve presente na Cultura Pop, de forma mais implícita ou explícita, o quanto ela é crucial para que movimentos revolucionários dentro e fora da indústria do entretenimento aconteçam e o quanto esperar que produtos “de massa” sirvam apenas para entreter e não para ensinar é desprezar o verdadeiro propósito da Cultura Pop: o propósito de representar a todos.



26 visualizações2 comentários

Posts recentes

Ver tudo

2 Comments


Guest
Jun 30

Texto brilhante!

Aspectos econômicos e políticos são realmente ingredientes essências nas produções culturais.

Parabéns!!!!!

Like

Excelente artigo!

Entretanto, eu ainda fiquei balançado sobre o soft power americano ter sido convertido de fato, ou se o soft power japonês não seja um "eco" do mesmo...

Like
bottom of page