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Oneshot: A fórmula perfeita para se quebrar a quarta parede.

Lara Portilho












A ideia de ser um personagem além do protagonista dentro de um jogo já foi um sonho. Ser realmente reconhecido, ter personagens chamando por você, pelo seu nome, com a realidade e a ficção verdadeiramente unidas, é um fenômeno conhecido como “quebra da quarta parede”. Diversos jogos, como Undertale, Deadpool e Doki Doki Literature Club, utilizam essa ferramenta, mas nenhum jogo que eu tive a oportunidade de jogar a usou de forma tão incrível quanto Oneshot.


Criado pela Future Cat na ferramenta RPG Maker, Oneshot é um dos meus jogos favoritos, simplesmente por existir. Os gráficos pixelados em cores fortes e vibrantes, a construção sensacional da trama e sua reviravolta e, o mais importante, a forma como o jogo reconhece sua existência por trás do computador são aspectos marcantes.

Em 2017, o jogo foi indicado ao Prêmio Golden Joystick de "Jogo para PC do Ano". Nós, jogadores, somos o deus que guiará essa jornada com Niko, uma criança com olhos de gato. Tenho o objetivo de relatar um pouco sobre este jogo, mesclando com minha experiência, com o mínimo de spoilers possíveis, embora adianto que alguns acabarão surgindo. É impossível não se empolgar e acabar revelando informações ao falar sobre Oneshot. Ressalto que falarei da versão World Machine Edition; a primeira versão do jogo não tem a opção da rota Solstício, que abordarei mais adiante.


A jornada começa com você sendo reconhecido como o ser supremo da história, proporcionando a emoção de decidir pelo destino de todo um povo e ajudar a não sucumbir à pressão de ter tantas pessoas confiando em suas decisões. No início, Oneshot pode ser confuso, afinal, estamos falando de um jogo que conversa com você e sabe seu nome (ele realmente lê o nome registrado em sua máquina). Todavia, a estranheza leva um tempo para se transformar em ansiedade. Um exemplo está logo no começo, quando a obra chama pelo seu nome e enfatiza que “Você só tem uma chance”, e realmente é assim, pelo menos no primeiro momento. O mundo misterioso no qual você e Niko se encontram está sem o Sol. Este logo é encontrado pelo protagonista, então a missão já fica clara: vocês devem colocar o Sol em seu devido lugar e, assim, começa a história entre você e o menino-gato.


A grande sacada está na metade do jogo, onde muitos acreditam que já é o final de Oneshot. Neste momento, a obra mostra o motivo de ser tão aclamada: a rota Solstício. Você e Niko devem escolher entre salvar aquele mundo ou fazer o pequeno garoto voltar para casa, para o lado de sua mãe. Você tem apenas uma chance. No entanto, independente da decisão, a insatisfação tomará conta, afinal, queremos um final feliz.


A rota Solstício intensifica a mecânica de quebra da quarta parede, mexendo com seus arquivos e até mesmo com seu papel de parede. Niko voltar para casa e salvar aquele mundo só pode ser feito por este caminho. Com um roteiro metaficcional extraordinário, o jogo nos faz mergulhar na ideia de que estamos realmente tentando salvar essas criaturas, com as quais nos apegamos facilmente, tornando tudo ainda mais emotivo.


Na minha primeira experiência, eu não havia entendido que poderia jogar novamente e senti uma grande frustração por ter que escolher entre duas opções com consequências terríveis. Optei por deixar Niko voltar para sua casa, condenando aquele mundo a acabar sem seu Sol. No entanto, não satisfeita, reabri o jogo para explorar outras opções e fui surpreendida:


o jogo ainda não havia acabado; aquilo era apenas o começo, pois uma grande investigação estava prestes a começar. Naquele mesmo mundo, com a consciência do deus que o jogo diz que você é, você poderá novamente controlar Niko e fazer a história acontecer de outra forma.

Explorei a obra como uma criança solta em um grande parque de diversões. A forma como o jogo interagia com os arquivos do meu computador e como os personagens realmente pareciam reais chegava a me assustar. Por exemplo, quando é revelado sobre a “Máquina do Mundo”, que é o principal antagonista no início, uma espécie de inteligência artificial. A maneira como a realidade daquela existência é consolidada no nosso universo e como ela merece ser salva é justamente através desse antagonista conversando com os jogadores, mostrando que o medo estava em nós mesmos. De certa forma, você acaba entendendo o coração e o espírito de todos os personagens ali presentes, até mesmo dos robôs, seres presentes em grande parte do jogo. Essas interações motivam você a buscar mais do jogo, explorando até mesmo os arquivos de seu próprio computador, tornando tudo mais intenso.


Confesso ter me assustado bastante quando o papel de parede do meu computador foi trocado; não há avisos, somos completamente pegos de surpresa. Mas rapidamente você é tomado pelo desejo de salvar a todos, com a sensação de ser amigo dessas criaturas. Essa é a magia da quebra da quarta parede em Oneshot: jogar como se vidas reais dependessem de suas decisões, sentir-se parte de um grupo confuso e, acima de tudo, sentir a obrigação de buscar o final feliz.


Ao final de sua jornada, com a luz daquele mundo em suas mãos, após finalmente cumprir seu desejo de alcançar o verdadeiro final, Oneshot finaliza de maneira majestosa, mostrando um momento que faz tudo valer a pena. Na caminhada do Solstício, você consegue entender o motivo daquele mundo existir e estar sendo emulado no seu computador. Então, o final entrega aquela sensação de tristeza e conforto misturados. Não quero falar muito para não estragar a surpresa para aqueles que querem experimentar a sensação de ser o deus do mundo de Oneshot, mas posso dizer apenas uma coisa: você tem apenas uma chance. Será mesmo?

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