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Podem as imagens geradas por Inteligência Artificial serem vistas como Arte?

Gabriel Mello, escritor e colunista da Revista Especular









No cenário do Prêmio Jabuti, uma reviravolta recente trouxe à tona uma discussão bastante acalorada sobre a legitimidade das imagens produzidas por Inteligência Artificial serem consideradas arte. O livro "Frankenstein", do Clube de Literatura Clássica, inicialmente indicado na categoria de Melhor Ilustração, gerou polêmica ao revelar que as ilustrações eram obra do designer Vicente Pessôa, utilizando IA. A controvérsia resultou na retirada da indicação em meio a manifestações da comunidade literária.


Aparentemente, uma máquina poder 'fazer arte' é mais violento do que um homem reviver outro, e este episódio serve como ponto de partida para uma reflexão mais ampla sobre o papel da Inteligência Artificial no universo artístico. Afinal, podemos legitimar as imagens criadas por algoritmos como formas de expressão artística?


O prêmio Jabuti, desclassificou a obra "Frankenstein" da disputa por melhor ilustração do ano. (Imagem: Reprodução/ Clube de Literatura Clássica)
O prêmio Jabuti, desclassificou a obra "Frankenstein" da disputa por melhor ilustração do ano. — Foto: Reprodução/ Clube de Literatura Clássica


Antes de adentrar a questão central, é crucial considerar como definimos arte. De forma bastante simplista, é possível dizer que ao longo da história a concepção de arte evolui e é moldada por fatores sociais, históricos, filosóficos e éticos, tornando a compreensão de 'o que é arte?' variar entre culturas e períodos, demonstrando a natureza fluida e subjetiva desse conceito.


A Arte Contemporânea, porém, que é o que nos mais interessa nessa discussão, possui algumas âncoras claras que firmam sua produção, como: a ligação intrínseca com ideologias, éticas e filosofias que repudiam violências. Artistas como Rosana Paulino, através de suas obras, abordam questões raciais, de classe social e gênero, sob uma lente decolonial, destacando a influência do contexto sociopolítico na produção artística.


A Arte Contemporânea, porém, ao longo do tempo, tem refletido as preocupações éticas e morais da nossa época, sendo cada vez mais insustentável não discutir o uso de IA's na arte e suas regulamentações.


Acredito que, ao avaliar a dita 'a arte gerada por IA', a pergunta que mais consolida essa assustadora proclamação seja: de onde vêm as imagens utilizadas nesse processo? A falta de transparência e o anonimato por trás das imagens claramente alimentam preocupações sobre a invisibilidade de uma classe artística e um certo misticismo sobre o assunto, levando à contestação popular da rotulação dessas imagens como arte.


Porém, retomando um pouco a questão essencialista, se a arte não é definida exclusivamente pelo processo ou pelo resultado final, o que impede as imagens geradas por Inteligência Artificial de serem consideradas arte? A resposta reside unica e exclusivamente na percepção coletiva e na ética que envolve esse método.


Assim como a fotografia um dia assustou os pintores, e os streamings proclamaram um errôneo fim do cinema, hoje as IA's proclamam a extinção dos artistas. Porém, esse discurso nada mais é do que especulativo, e precisa ser convertido em algo mais necessário, como: a realidade das imagens geradas por IA ser um produto de baixo investimento para grandes corporações, e também por este produto ser, essencialmente, uma repaginação de obras de outros artistas, que sequer recebem créditos ou royaltys pela geração de tais imagens.


Tudo isso gera, sim, violência. E a arte no hoje, como disse, intolerante à violência, sendo a resistência à violência e a busca por uma ética humanizada na arte contemporânea grandes influências para rejeição das imagens produzidas por IA.


Mais do que tudo, esse debate (que precisa, sim, ser um debate, fazendo artistas e criadores terem seus espaços para fala) deve focar em soluções mais imediatas e menos especulativas. Ainda assim, vale a reflexão se a 'não-arte' está na técnica ou no método que hoje percorre essa técnica. Será que as imagens geradas por IA podem eventualmente ser reconhecidas como arte? E se a ética por trás da IA for regulamentada de acordo com exigência dos artistas, estaria o público disposto a consumir uma arte produzida por máquinas?

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