Quando lemos, assistimos, jogamos ou simplesmente ouvimos falar de certas obras, há uma pergunta que fica no ar...
Sci-fi ou Fantasia?
Com a evolução e popularização da ficção no século XX, algumas das questões que protagonizaram os ensaios científicos séculos atrás, parecem invadir o campo da especulação. Agora, é possível especular o mito ou a ciência e isso não seria blasfemar para nenhum deles. Porém, a tarefa não é tão simples ao considerar ambos como um registro da imaginação humana acerca das naturezas, de um lado, a natureza fantástica, de outro a natureza científica. Inclusive, envio saudações para os nossos amigos do outro lado (da coluna de fantasia) e recomendo a leitura do nosso último texto sobre uma série que costuma quebrar cabeças se trata-se de sci-fi ou fantasia, Arcane.
Hoje, irei apresentar a vocês um excelente gatilho para essa dicussão, uma História em Quadrinhos que descobri na CCXP (Comic Con Experience) de 2022, acompanhei durante os últimos anos e teve seu fim e publicação de todos seus volumes em um belíssimo encadernado na CCXP 24, "10 Dias Perdidos" de Sam Hart.
Em um cenário renascentista, nós acompanhamos a irmã de Tycho Brahe, Sophya, ao longo de dez dias entre deuses do mundo antigo e técnicas de uma ciência nascente. A história preenche os dias que foram pulados na mudança do calendário Juliano para o Gregoriano, um fato histórico de um período cheio de fantasia e ciência. Sophya é uma jovem que convive e aprende com os cientistas de sua época, mas mais do que isso, ao longo da história a vemos também como uma cientista e usuária da magia. Seu irmão domina a técnica muito especial de criar planetas e estrelas. Um evento causado por seres mal-intencionados resulta em um congelamento de todas as criaturas e do próprio tempo. A jovem aprendiz criadora de estrelas é a única capaz de reverter a situação.
Com toda a ciência e tecnologia atuais é muito estranho a nós pensar que a astrologia já foi uma interpretação científica na renascença (quando o conceito de ciência como conhecemos surgiu) ou que a existência do éter já foi uma preocupação da física e astronomia até o início do século XX. Mas se tomarmos como científico apenas a interpretação contemporânea e ocidental do que é ciência ao escrever novas narrativas, uma grande opotunidade é perdida. Oportunidade que foi muito bem aproveitada por Sam Hart.
A especulação acerca da ciência pode ir muito além de um questionamento do que ela pode se tornar no futuro, mas também sobre o que foi e poderia ser científico no passado. O que aconteceria se o método científico fosse formulado de forma diferente do que conhecemos hoje? O que aconteceria se um país de "terceiro mundo" descobrisse a radioatividade antes de todos? O que aconteceu naqueles 10 dias que não foram registrados no calendário?
O passado da ciência também é caminho possível para a ficção científica explorar e em um período como século XVI, os limites entre ciência e "mito" são quase inexistentes, afinal, o que explica os dados científicos quando as teorias ainda estão sendo criadas?
Assim como em Arcane, 10 Dias Perdidos descreve perfeitamente o que é um mundo de ciência e magia, como já foi a perspectiva geral acerca do nosso mundo. A ficção científica especula sobre a ciência e a ciência é o estudo sistemático da natureza, através da matemática e de métodos empíricos. Porém, nós não conhecemos toda essa natureza e como disse Sam Hart, "se mudarmos nossa perspectiva, podemos mudar a história".
Que bacana Stella. Certamente o não conhecimento de toda a natureza ...nos coloca neste fio do real e irreal e nos leva a uma curiosidade criativa e sensível...
Agradecida
Texto muito bom Stella, aliás você é uma escritora brilhante e tem um lindo futuro literário pela frente, e que bom que se enveredou por este estilo literário da ficção científica.
Não é por menos que o gênero da ficção científica também foi conhecido como literatura de antecipação, muitos autores do gênero, podemos citar Julio Verne conseguiu antecipar ou prever a criação do submarino. Aldous Huxley com seu admirável mundo novo traz coisas que pareciam totalmente fora da realidade pra época, hoje são nossa realidade.
Parabéns pelo seu trabalho e por estar participando desta revista espetacular e que traz outros autores incríveis.