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Robô Selvagem: a ficção científica não é só coisa de gente grande

Gabriel Mello










Infelizmente, é bastante comum associarmos gêneros literários ou audiovisuais à adultez. Digo "infelizmente" porque muito do que lemos e vemos, na verdade, são grandes atrativos para um público mais jovem que, inclusive, muitas vezes consegue lidar com o assunto e com aquela sensibilidade melhor do que nós mesmos.


A ficção científica se consolidou como um gênero complexo dentro do consumo. Num primeiro momento, ela tendia a se afastar do público geral, porém o que vemos hoje é que, a cada ano, a FC vem se tornando ainda mais mainstream. E tendo como base toda essa migração de "um gênero de poucos" para "um gênero para muitos", cabe abrirmos a reflexão seguinte: será que a ficção científica é mesmo coisa de gente grande?


Talvez o caso mais recente seja a animação O Robô Selvagem (2024), que vem conquistando uma legião de fãs muito além de um público mais jovem. O filme é uma adaptação do livro de Peter Brown e tem a direção de Chris Sanders, já bastante conhecido por conseguir fazer gente grande chorar em seus "filmes infantis".


Após uma nave naufragar numa terra desabitada, Roz, uma robô treinada para servir, ativa o seu sistema. Agora, a robô precisa sobreviver às intempéries da floresta, e a sua única esperança é se adaptar àquele ambiente hostil às suas programações. Durante sua exploração, Roz encontra um filhote de ganso órfão e estabelece como missão cuidar dele.

Obras de ficção científica que se destinam às crianças ainda assim podem ser completamente arrebatadoras para adultos, sendo o caso de "O Robô Selvagem" perfeito para exemplificar este movimento. Por mais que a produção do filme tenha cuidado que cada processo ressoasse com o público infantil, todos os adultos que, por qualquer motivo, acabaram na sala de cinema, se viram comovidos, emocionados e, ouso dizer, com aquela "vontade-de-viver" revigorada.


E para a surpresa de muitos, "O Robô Selvagem" não abre mão em nenhum momento do caráter profundo e complexo da ficção científica. É um filme que entende o público infantil como um público preparado, e por isso estabelece um diálogo de igual para igual. É uma história que fala de maternidade e de pertencimento; de preconceito e de exclusão; do meio ambiente e dos desenfreados avanços tecnológicos.


É um prato cheio para qualquer entusiasta de ficção científica.


Roz ao lado de outros dois moradores da floresta. (Imagem/Reprodução: DreamWorks).
Roz ao lado de outros dois moradores da floresta. (Imagem/Reprodução: Universal Pictures).

A mensagem que o filme transmite é clara: a ficção científica, mesmo voltada para o público jovem, tem o poder de tocar em questões filosóficas e sociais extremamente relevantes. E não se trata apenas de "ensinar" ou "alertar" de forma simplista. A história não força uma moral explícita, mas faz com que o espectador, seja ele criança ou adulto, pense sobre a relação entre tecnologia, humanidade e a natureza de forma profunda e sem respostas fáceis.


Roz não apenas aprende a sobreviver, mas também a cuidar, a entender e, talvez, a amar. Colocar isso numa tela acessível a todas as idades é o mesmo que chamar o público infantil para uma jornada; uma jornada necessária e que demonstra como temas densos não precisam ser apresentados de forma assustadora ou inacessível. Crianças podem, sim, lidar com a complexidade do nosso mundo.


No fundo, não posso deixar de acreditar que essa é a beleza do gênero especulativo. A ficção científica sempre foi um convite à nossa imaginação, e para as crianças, cujo imaginário está em constante ebulição, não existe lugar mais rico para se estar. Por meio de histórias como "O Robô Selvagem", aprendemos a especular nossos futuros desde muito cedo, assumindo nosso protagonismo na construção de um amanhã melhor.


Por isso que a ficção científica não é, e não deve ser, "coisa de gente grande". Ela sempre teve o potencial de abordar questões profundas e pertinentes, independente da idade do público, e por mais que tenhamos tardado em perceber isso, podemos trabalhar a partir de hoje nas possibilidades. E, como "O Robô Selvagem" bem exemplifica, a ficção científica pode ser um meio maravilhoso de explorar o futuro e suas questões com um olhar curioso, sensível e, acima de tudo, pessoal em meio ao universal.


Mas e você, já assistiu "O Robô Selvagem"?

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