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Talvez "Nosferatu" valha seu tempo

Matheus Maciel












Primeiramente, um feliz 2025 a todos! Como passaram a virada? Espero que muito bem.


Logo no começo do ano, na primeira semana mesmo, fui correndo para o cinema, pois o filme mais aguardado (pelo menos para mim) já tinha sido entregue.


Se o título ainda não entregou o ouro, é claro que estou falando de Nosferatu (2024).

Acompanhando as edições mensais aqui da Especular, somando-se às minhas outras colunas, já pode ter uma ou outra pista de que eu tenho muito apreço pelo filme original, de 1922. 


"Nosferatu" é um filme de terror gótico checo-americano de 2024, escrito e realizado pelo cineasta Robert Eggers, produzido por Chris Columbus e Eleanor Columbus.
"Nosferatu" é um filme de terror gótico checo-americano de 2024, escrito e realizado pelo cineasta Robert Eggers, produzido por Chris Columbus e Eleanor Columbus. (Imagem/Reprodução: Universal Pictures)

Só para situar, o filme-tema desta coluna é o remake do Robert Eggers  (1983 -) , que estreou aqui no Brasil em 4 de janeiro (estreia na qual eu fui, coisa raríssima).

Imagino que você esteja se perguntando “mas e aí, o filme é bom?”. 

Te digo: olha, não sei.


Eu fui com uma expectativa altíssima para a sala de cinema, não apenas por ser uma nova versão do filme que eu já tenho em alta conta, mas por ser do responsável pelo meu filme favorito, O Farol (2019). Receita para um decepção das boas, não é mesmo?

Bem, também não.


Como bem já se sabe, a tão tradicional divisão entre filmes “arte X comerciais” não é nada além de um tapinha em nossas próprias costas dizendo que tudo vai melhorar e que o cinema, em algum dia de motivos napoleônicos, vai superar seus problemas e ser “pura arte”. Creio que, em oposição (e infelizmente) o cinema dependa, às vezes mais ou menos, do mercado e de financiamento. Dei essa volta para chegar em outro status quo contemporâneo da sétima arte: a onda de remakes


Se você está aqui, provavelmente já sabe que as salas de cinema e streamings estão recebendo uma quantidade avassaladora de regravações de filmes antigos. Nosferatu, obviamente, está mergulhado até os calcanhares nesse contexto. Apesar da conotação negativa que esses remakes estão carregando consigo (e não injustamente, diga-se de passagem), Nosferatu se diferencia.


Já rejeitando logo de cara o dogma da “fidelidade” a que obras cinematográficas são submetidas, como se emular perfeitamente o que já foi feito fosse a qualidade em si, Nosferatu pode ser uma experiência e tanto.


O filme é ambientado em 1838, em uma Alemanha ainda não unificada e bastante cinzenta. Um jovem advogado recebe a tarefa de concluir uma transação imobiliária com um nobre de hábitos obscuros e inquietantes. 


Parece familiar? Claro, é a história do romance Drácula.

Sendo o Nosferatu original uma adaptação não autorizada (e à época, ilegal) do romance de Bram Stoker (1847 - 1912), o remake de Eggers, por sua, se apresenta como uma reimaginação de uma obra que já, por suas limitações técnicas e júridicas, imaginou muita coisa por si. 


O tratamento narrativo que a versão atual recebeu é o que, portanto, me motiva a enquadrar o filme aqui em Fantasia. Isso se dá por uma troca que imagino ter sido realizada por ideia do diretor: trocar um punhado de terror mais moderno por outro punhado de terror, mais gótico por sua vez. 


Não vamos nos alongar aqui sobre isso, portanto, concordemos: o clássico terror gótico já não dá mais tanto medo hoje em dia, certo? Beleza, estamos de acordo.

Como, então, Nosferatu poderia ter se mantido interessante como cinema moderno, com demandas (principalmente as de mercado, como falamos agorinha) modernas? Me arrisco a dizer que com uma moda que caiu como uma luva para a obra: a moda da fantasia sombria.


Não quero me alongar muito no conceito; prefiro trazer uma coluna dedicada. Prometo, de pés juntos. O que, então, quero destacar do filme é sua aura única de conto obscuro, em que os temas, normalmente relacionados a um “passado sombrio” europeu aparecem com toda a força para distribuir o peso da narrativa. O conde Orlok, diferente do Nosferatu original, não é a criatura misteriosa e perturbadora que se desloca implacável até seu alvo, sendo derrotado só no último segundo, mas uma sombra crescente e que a cada aproximação, gera mais e mais angústia, criando dinâmicas interessantes e que provocam as personalidades dos personagens, às vezes destroçando suas relações, às vezes fazendo com que os compreendamos melhor. Talvez, até eles sobre eles mesmos.


Nosferatu está, até o momento, recebendo críticas mistas, ainda que um tanto mais positivas que negativas. O que me alegra, neste mundo de remakes e nostalgia ultra explorada, é ver um filme realizado com ideias próprias que cumpre e vendo seus anseios artísticos, em oposição a anseios de consumo.

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