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Vagabond: renasça e viva de forma digna


Claudio Marcos, colunista Revista Especular











Musashi Miyamoto é uma das figuras históricas mais conhecidas do Japão, sendo retratado em diversas obras de formas diferentes, conhecido como o maior espadachim do Japão e o criador do estilo de luta de duas espadas. Tratarei neste texto sobre a versão de Vagabond, escrita e ilustrada por Takehiko Inoue, tendo sua primeira publicação em 23 de março de 1999 no Japão.


Vagabond retrata o Japão Feudal (1185-1603), no qual Musashi Miyamoto viveu seus últimos anos (宮本武蔵 1584–1645). Musashi, antes de ser Musashi, era Shimen Takezo, um garoto agressivo, grosseiro e sedento por sangue que vagava em busca de desafios. Ele buscava ser "invencível sob o sol", ser alguém tão forte que ninguém mais poderia duvidar de seu valor.


Ele era odiado em sua vila natal e desprezado por todos que o viam, exceto seus dois amigos Otsu e Matahachi, que conseguiam ver no fundo de Takezo uma chama de esperança. Nos é mostrado que Takezo é dessa forma como uma maneira de se proteger do mundo, já que seu pai o desprezava, e ele queria que sua mãe olhasse para ele com carinho, mas ela o fez pouquíssimas vezes.


Em determinado ponto, Takezo volta para sua vila e é emboscado pelos moradores, por acreditarem que era melhor ele morto do que causando mais problemas. Nesse momento, um monge chamado Takuan diz que vai cuidar do caso do rapaz agressivo, já que, após ser emboscado, ele foge para as montanhas.



O monge o encontra e, em suas primeiras palavras, mostra que o rapaz é fraco, sendo somente uma carcaça grande por fora, mas por dentro não passa de um gato assustado.


O monge consegue uma forma de prender Takezo e o amarra em uma árvore, querendo que ele reflita sobre a vida de matança que leva, uma vida amargurada, sem sentido, uma busca incessante por uma morte honrosa em uma vida suja. Takuan pergunta se alguém dessa forma teria o direito de decidir morrer da maneira que quer, já que tirou tantas vidas que nem conhecia e nem permitiu que essas pessoas decidissem como queriam partir. Takezo se sobrepujou à vida de tantos homens; ele foi cruel.



Cena do mangá "Vagabond"

Takezo, neste momento, desmorona, e o leitor também. Toda aquela imagem de força se desmonta na nossa frente e na frente do protagonista. Toda a vida do menino passa por sua mente nessa hora. Ele se questiona por que nutriu tanto ódio, por que as pessoas o desprezavam, por que seu pai negou amor? Uma criança que não sabia nada, queria apenas amor e só recebeu ódio. Por que alguém assim nasceria?


Esse tipo de vida é honrável? Claro que não. Tudo isso não vale a pena, mas como provar para alguém que essa pessoa é digna de viver de uma forma honrosa? Que resistir às sombras irá trazer paz, trazer conforto. Vagabond mostra que uma vida nova requer alguém novo, requer mudar para melhor, requer renascer. O renascimento traz um novo aroma para as flores do jardim da vida, traz uma visão mais limpa de tudo que já se passou.


Resistir ao mal e renascer para buscar a luz, pois a luz encontra aqueles que anseiam por ela e aguardam com paciência.


Então, nasce Musashi Miyamoto, aquele que seria o maior espadachim do Japão, que criaria o estilo de duas espadas, mas, acima de tudo, alguém melhor, que valoriza a vida, tanto a sua quanto a do outro. O caminho de Musashi será árduo, será violento e com trevas, mas caso ele resista, poderá ser alguém iluminado, assim como Buda que tanto é citado no texto de Vagabond. O caminho da iluminação é difícil, mas vale a pena, a busca por uma vida melhor vale a pena. O renascimento traz a cor de volta para uma vida que foi infeliz por tanto tempo.




Vagabond foi escrito por Takehiko Inoue, autor também de mangás como ''Real'' e ''Slam Dunk'', e se inspirou no romance ''Musashi'', lançado em 1939, e também no livro ''Livro dos 5 anéis'', escrito pelo Musashi da vida real. Vagabond é publicado no Brasil pela editora Panini.


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